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Se há autor por quem não tenha qualquer espécie de empatia é precisamente Mario Vargas Llosa. Li, apenas, Conversa na Catedral (o que não sei se aconteceria se relesse hoje). Os demais não me interessaram.
Esta é minha opinião, a contracorrente da onda de entusiasmo generalizada que por aí vai, é uma questão de gosto (ou de defeito…)…Enfim, para o ano haverá outro.
Isto prova que voce não entende nada de literatua. Ou tem mau gosto. Premio ++++ que merecido.
Pode ser… Mas a julgar pela justificativa da Academia Sueca: “por sua cartografia das estruturas de poder e suas imagens mordazes da resistência, da revolta, e da derrota do indivíduo”… O Llosa é um liberal que ficou calado nos anos 90, e agora vocifera contra os governos latinos… Bem, isso é uma critica… só isso! não significa dizer que não entendo de nada.. rs
Abs
07/10/2010 – 12:13 | Haroldo Ceravolo Sereza | So Paulo Mario Vargas Llosa e a metfora do fotgrafo cego
O prmio Nobel de Literatura para Mario Vargas Llosa certamente provocar muita discusso, dado que, h algumas dcadas, Vargas Llosa tornou-se um colunista conservador poltica e artisticamente, um crtico feroz da esquerda latino-americana, que no conseguiu congregar nem mesmo quando enfrentou no Peru, com um discurso liberal, a nascente ditadura de Alberto Fujimori (a quem a poltica externa brasileira de vis conservador ofereceu a mo).
Vargas Llosa, nascido em 1936, em Arequipa, no sul do Peru, como se sabe, mais um representante da vaga literria latino-americana que conquistou a Europa nas dcadas de 1960 e 1970 do sculo passado. Esta onda j rendeu o Nobel a Miguel ngel Asturias (1967), Pablo Neruda (1971), Garca Mrquez (1982) e Octvio Paz (1990). Outro nome que ganhou dimenso internacional devido a essa movimentao foi o do mexicano Carlos Fuentes, que vai provavelmente figurar por mais uns anos na lista de premiveis.
Alguns dos livros de Vargas Llosa, como A cidade e os cachorros, que se passa num colgio militar em Lima, em que se expe o autoritarismo atravs do rigor das normas de conduta em relao aos cadetes, e Pantaleo e as visitadoras, de tema mais irnico (o Exrcito organiza um servio de prostituio para seus pelotes), tornaram-se referncia para entender o fenmeno literrio e poltico latino-americano. No Brasil, h um interesse adicional na sua obra, por conta de A guerra do fim do mundo, que d forma ficcional ao conflito de Canudos.
Sem entrar em uma discusso mais aprofundada das qualidades e os sentidos da obra de Vargas Llosa, sobra uma questo: possvel um escritor ou um artista conservador construir uma obra que se choca com essas posies?
O crtico brasileiro Alfredo Bosi, em Literatura e resistncia, escreve que, em princpio, a margem de escolha do artista maior do que a do homem-em-situao, ser amarrado ao cotidiano. Por isso, especialmente nos tempos em que o lan revolucionrio no polariza e comove tanto os homens de ao como os criadores de fico, o artista da palavra pode desenvolver, solitria e independentemente, a sua resistncia ao que Bosi chama de antivalores do meio.
uma questo que permeia a histria literria. O exemplo clssico a valorao positiva que o pensador marxista Georg Lukcs (seguindo uma sugesto de Engels e do prprio Marx) aponta na obra de Balzac, conservador e politicamente defensor da aristocracia, mas, para Lukcs, a melhor obra ficcional sobre o capitalismo do sculo XIX. Os casos, no entanto, so muitos o namoro de Ezra Pound com o fascismo e a indulgncia de Borges com Pinochet, para ficarmos em apenas dois nomes tambm lembrados por Bosi e que, avaliados apenas do ponto de vista poltico, devem causar arrepios.
Analisando especficamente o caso de Vargas Llosa (em artigo que consta do livro No bosque do espelho), o argentino-canadense Alberto Manguel chegou a uma frmula sinttica para explicar esses casos que considera raros, mas no nicos, na histria da arte: para ele, Llsoa um escritor que no aprende com a prpria obra.
H dois Vargas Llosa, absolutamente contraditrios, defende Manguel: o escritor crtico de A Cidade e os Cachorros e o poltico que escolheu ser discpulo de Margaret Thatcher e que aceita anistiar os militares peruanos envolvimos na represso ditatorial. Este o Vargas Llosa que considera inevitvel e mesmo necessria a destruio da cultura indgena, em oposio ao que denuncia, com sua obra, este tipo de violncia contra as sociedades mais frgeis.
O ttulo do ensaio de Manguel sobre Vargas Llosa tem o poder de sntese das metforas reveladoras: O Fotgrafo Cego, aquele que registra imagens cujo significado no capaz de compreender completamente.
Para Manguel, o Vargas Llosa escritor no pode ser descartado, mas o Vargas Llosa pessoa abominvel. Em paralelo ao Vargas Llosa que no entende o que escreve, h o leitor que no aprende quando l: Comparo ato de ler com o ato ertico: como possvel que o ato de amor no converta a pessoa em algum melhor? Poucos de ns mudamos de vida quando ficamos diante de uma obra de arte, mas a culpa no dela.