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Mel no Tacho

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Arquivos Mensais: novembro 2011

Elogio ao boteco, por Leonardo Boff

14 segunda-feira nov 2011

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bar, barzinho, Bebida, boff, boteco, botequim, comida, cultura, elogio ao boteco, pe-sujo

Leonardo Boff

Em razão do meu “ciganismo intelectual” falando em muitos lugares e ambientes sobre um sem-número de temas que vão da espiritualidade à responsabilidade socioambiental, e até sobre a possibilidade do fim de nossa espécie, os organizadores, por deferência, costumam me convidar para um bom restaurante da cidade. Lógico, guardo a boa tradição franciscana e celebro os pratos com comentários laudatórios. Mas me sobra sempre pequeno amargor na boca, impedindo que o comer seja uma celebração. Lembro que a maioria das pessoas amigas não podem desfrutar destas comidas e especialmente os milhões e milhões de famintos do mundo. Parece-me que lhes estou roubando a comida da boca. Como celebrar a generosidade dos amigos e da Mãe Terra se, nas palavras de Gandhi, “a fome é um insulto e a forma de violência mais assassina que existe”?

É neste contexto que me vêm à mente como consolo os botecos. Gosto de frequentá-los, pois aí posso comer sem má consciência. Eles se encontram em todo mundo, também nas comunidades pobres nas quais, por anos, trabalhei. Aí se vive uma real democracia: o boteco, ou o pé-sujo (o boteco de pessoas com menos poder aquisitivo), acolhe todo mundo. Pode-se encontrar lá tomando seu chope um professor universitário ao lado de um peão da construção civil, um ator de teatro na mesa com um malandro, até com um bêbado tomando seu traguinho. É só chegar, ir sentando e logo gritar: “Me traga um chope estupidamente gelado”.

O boteco é mais que seu visual, com azulejos de cores fortes, com o santo protetor na parede, geralmente um Santo Antônio com o Menino Jesus, o símbolo do time de estimação e as propagandas coloridas de bebidas. O boteco é um estado de espírito, o lugar de encontro com os amigos e os vizinhos, da conversa fiada, da discussão sobre o último jogo de futebol, dos comentários da novela preferida, da crítica aos políticos e dos palavrões bem merecidos contra os corruptos. Todos logo se enturmam num espírito comunitário em estado nascente. Aqui ninguém é rico ou pobre. É simplesmente gente que se expressa como gente, usando a gíria popular. Há muito humor, piadas e bravatas. Às vezes, como em Minas, se improvisa até uma cantoria que alguém acompanha ao violão.

Ninguém repara nas condições gerais do balcão ou das mesinhas. O importante é que o copo esteja bem lavado e sem gordura, senão estraga o colarinho cremoso do chope que deve ter uns três dedos. Ninguém se incomoda com o chão e o estado do banheiro. Os nomes dos botecos são os mais diversos, dependendo da região do país. Pode ser a Adega da Velha, o Bar do Sacha, o boteco do Seo Gomes, o Bar do Giba, o Botequim do Joia, o Pavão Azul, a Confraria do Bode Cheiroso, a Casa Cheia e outros. Belo Horizonte é a cidade que mais botecos possui, realizando até, cada ano, um concurso da melhor comida de boteco.

Os pratos também são variados, geralmente, elaborados a partir de receitas caseiras e regionais: a carne de sol do Nordeste, a carne de porco e o tutu de Minas. Os nomes são ingeniosos: “mexidoido chapado”, “porconóbis de sabugosa”, “costela de Adão” (costelinha de porco com mandioca), “torresminho de barriga”. Há um prato que aprecio sobremaneira, oferecido no Mercado Central de Belo Horizonte e que foi premiado num dos concursos: “bife de fígado acebolado com jiló”. Se depender de mim, este prato deverá constar no menu do banquete do Reino dos Céus que o Pai celeste vai oferecer aos bem-aventurados.

Se bem repararmos, o boteco desempenha uma função cidadã: dá aos frequentadores, especialmente aos mais assíduos, o sentimento de pertença à cidade ou ao bairro. Não havendo outros lugares de entretenimento e de lazer, permite que as pessoas se encontrem, esqueçam seu status social e vivam uma igualdade, geralmente, negada no cotidiano.

Para mim, o boteco é uma metáfora da comensalidade sonhada por Jesus, lugar onde todos podem sentar à mesa e celebrar o convívio fraterno e fazer do comer uma comunhão. Para mim, também, é o lugar onde posso comer sem má consciência. Dedico este texto ao cartunista e amigo Jaguar, que aprecia botecos.

Uma cidade dos EUA na Amazônia

13 domingo nov 2011

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Amazonias, amazonica, americana, borracha, carro, cultura brasileira, EUA, fauna, Fordlandia, Henry Ford, povo, Seringueira

Uma cidade dos EUA na floresta Amazonica criada por Henry Ford.

Pessoal do Ceará

10 quinta-feira nov 2011

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amelinha, cbs, cultura, Ednardo, fagner, música, mucuripe, Pavão misterioso, pessoal do ceará

Um curta-metragem da música Mucuripe (Belchior), por Raimundo Fagner, e Pavão Misterioso, por Ednardo.

 

A Chuva Pasmada e o Mar Me Quer – Mia Couto

08 terça-feira nov 2011

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A chuva pasmada, cultura, Guimarães Rosa, literatura, livro, mar me quer, mia couto, Moçambique

O rio  nunca está feito, como não está o coração. Ambos são sempre nascentes, sempre nascendo. (Mia Couto. A Chuva Pasmada).

Já era pra ter plantado aqui o que entrou no meu juízo depois da leitura de dois livros do grande Mia Couto. Nem carece falar muito dele, pois já falei desse moçambicano umas poucas de vezes aqui no roçado. Mas é que tem um deles, “A Chuva Pasmada”, que li de forma muito aperreada e engraçada. Quase todos os dias eu ia à livraria Cortez, aqui pertinho, mais ou menos umas 100 braças aqui de casa, ler o danado do livro. Viciou-me, visse!!. A leitura + o café expresso.

Em Chuva Pasmada quem narra o romance é um menininho que entrecruza com os diálogos entre os personagens. São 17 capítulos onde um avô e um menino protagonizam a história. E ainda, o pai, a mãe e uma tia solteira. Os pais consideram o ‘meninin’ uma criança espantada, pasmada: lerdo no fazer e custoso (demorado) no pensar. E aí uma ‘comparaçãozinha’ arretada: a chuva que tardava a vir e era reclamada por todo mundo, era tão ‘pasmadinha’, lerda, como o menino.

Mas por qual razão a chuva não caia naquele pedaço africano? Por que o rio estava ficando seco? Não seria por conta da fabrica que soltava fumaça? Essas questões não podiam ser respondidas dentro de um raciocínio lógico, por isso será necessário recorrer às lendas e aos mitos. É no momento que ocorre ao avô contar a história sobre o rio (a lenda de Ntoweni). Esta lenda discorre acerca do nascimento do rio que banha aquela terra… Aí o menino inicia as observações sobre o avô. O avô é ‘mermin’ o rio: “o rio emagrecera mais do que o avô, os terrenos encarquilharam, o milho amarelecia” (p.14).

Por fim, na última parte, o avô pega um barquinho e sai deslizando na água que ainda resta do rio. O menino vê o barquinho se desmanchando no horizonte, diluindo-se no azul da correnteza e dentro dele está o avô que parte para não mais voltar.

Já o outro, “Mar Me Quer”, foi um presente que ganhei de uma amiga. Esse li com mais tempo… Claro, quando dava… Ora no banheiro, ora dentro do carro, ora na rede… Pra onde ia levava o “mar me quer” comigo. E por isso não me demorei muito na leitura.

Do que ficou no meu juízo das leituras dos livros é que somos filhos da água e só nos tornaremos terra, poeira, pó, quando secarmos, feito um torrão tal qual um açude esturricado cravado no sertão. Resta-nos não nos acabar de sequidão, de deixarmos minguar, antes que o “fio do tempo nos dite a morte”.

São estórias paridas do misto de calor e frio, do pouco definido, das estranhezas, bem fincadas no lugar e nas personagens friccionadas, como são todos os escritos do moçambicano.

Fico por aqui… e noto que há traços do Guimarães Rosa na obra do Mia Couto, por isso a leitura é interessantíssima….. Podem conferir!

O palhaço, (Dir. Seton Melo)

06 domingo nov 2011

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

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cinema, cultura, documentário, filme, o palhaço, selton melo

Para dentro do Brasil – (Da Carta Capital)

“Eu vou ao Sul do Brasil e me sinto num lugar relativamente estrangeiro. Vou a Salvador, me sinto num lugar bastante estrangeiro. Porque no Sul do Brasil parece que fui pra Europa; na Bahia, parece que fui pra África. Mas quando eu vou pra Minas eu sinto que eu fui pra dentro do Brasil”.

‘Como o ventilador, tudo no filme parece simbólico: a estrada, o pó, os canaviais, o retrovisor, o cansaço, o calor’

A frase, atribuída à atriz Fernanda Montenegro, é citada por Caetano Veloso em uma entrevista sobre a música “A Terceira Margem do Rio”, composta em parceira com o mineiro Milton Nascimento e baseada no conto de mesmo nome do também mineiro João Guimarães Rosa.

Pois é para dentro do Brasil que envereda a trupe de “O Palhaço”, filme dirigido e protagonizado por Selton Mello. No longa, o ator-diretor – que nasceu em Passos (em Minas) e cresceu e se notabilizou em São Paulo – interpreta Benjamin, palhaço que, a certa altura da vida (e da excursão) sente que é hora de parar, tomar outro caminho, respirar. Não por acaso, há uma fixação que acompanha o personagem ao longo do filme: a falta que lhe faz o ventilador.

Como o ventilador, tudo no filme parece simbólico: a estrada, o pó, os canaviais que margeiam o caminho, o cansaço, o calor, a ausência de identidade, a cachaça, as cores, a tenda, a música encomendada, as pequenas transgressões, a frágil ideia do coletivo, a divisão de tarefas, a dança da mulher-coragem, a atriz-mirim, o terreno onde se ergue o palco, o nome do circo (Esperança), a vida nômade de seus personagens…tudo tão Brasil.

O palhaço Benjamin, personagem de Senton Mello no filme que ele mesmo dirige

A referência à terra natal do ator (Passos, a cidade a ser atingida) parece lançá-lo a um ponto distante, de descanso; longe da turbulência dos palcos que o consagraram. De Lourenço, o cínico personagem de Selton Mello em “O Cheiro do Ralo” – épico sobre a relação homem-lobo-do-homem baseado na obra de Lourenço Mutarelli – Benjamin não tem nada. Sua angústia parece vir dos mais infantis dos questionamentos. O que faço aqui? Para onde vou? Estou dando conta?

São as perguntas que parecem emergir quando, ao lado de uma prostituta de estrada, ele diz, angustiado: “Sou eu que faço rir, mas quem é que vai me fazer rir?”. A resposta da mulher, interpretada por Fabiana Karla, é uma risada. E um cruel: “Você é tão engraçado…”

A trupe do Circo Esperança

Benjamin faz rir sem querer. Fora dos palcos, como um personagem de “Primeiras Estórias”, ele “muito não se demonstra”. É o tímido bobo, ingênuo como aquele tio do interior que não casou nem liga para dinheiro; não vê a maldade que o cerca, doa a própria calça para não ver o amigo passar frio, e é capaz de passar horas contemplando o mundo, a chuva, a lua, os animais – e que fatalmente seria engolido na cidade grande. Benjamin é parte de um povo que, nas palavras de Milton Nascimento, “têm uma cabeça, um coração, uma emoção, uma coisa que em lugar nenhum do mundo se encontra”. “Por isso eu gosto do interior”, conclui o compositor, na entrevista sobre “A Terceira Margem”.

No filme, ao reconstruir o mito do palhaço, que em geral aponta fraturas por meio do riso ou da fingida loucura, Selton inverte o clichê; desta vez é o palhaço que precisa rir, respirar, encontrar caminhos, uma identidade.

Ao abandonar o circo, Benjamin tenta seguir com os próprios passos. Em vão

Pois é numa cidadezinha em Minas que Benjamim, enfim, troca seu combalido comprovante de nascimento por um registro civil, para oficialmente existir. Justo ali, no estado onde está sacramentada a identidade de parte do que a cultura brasileira já produziu de melhor – Rosa na prosa, Drummond na poesia, Sabino na crônica (Se sou mineiro? Bem, é conforme, dona…Sou de Belzonte, uai”), Milton na música, entre tantos de tantos.

Como seus pares, e com a ajuda de uma atuação eloquente de Paulo José (Valdemar, dono do circo e par de Benjamin, seu filho, nos palcos), Selton Mello se rende, em “O Palhaço”, à cultura popular; ao jeito de falar, sobreviver e de fazer rir dos brasileiros mais brasileiros. Esta é a sua terra, sua tradição, e sua escola.

Minas e o cinema não poderiam estar mais bem representados.

Trivial do fim de semana… Vitrines do velho Chico

05 sábado nov 2011

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Chico Buarque, cultura, música, MPB, vitrines

Democracia boa é na casa dos outros!

05 sábado nov 2011

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capitalismo, crise europeia, democracia, economista, mercado financeiro, rentismo, sistema financeiros

Vejam só! os democratas europeus argumentam que a democracia é o maior perigo para Europa e o mundo!!!

Para Sarkozy e Merkel, o plebiscito na Grécia será o fim da Europa.

E eu com minha inocência nunca pensei ouvir isso dos democratas radicais. Mas, então, por que o povo é legítimo nas eleições, e não para defender a soberania de seu país? Quer dizer, a democracia só é boa para lhes proporcionar o status, o poder.. Mas é má para todo o resto…

O mesmo chefe, democrata que é, demite as chefias militares com medo de um golpe de estado à maneira latina dos anos 60…

Ah!!! um apelo: Saddam, Kadafi, Pinochet, Medici, Costa e Silva, Salazar, Franco…voltem!!! voces tinham lá suas razões quando diziam que regime democrático é o melhor dos mundos, desde que o povo não participe da gestão da coisa pública.

Para que serve um economista?

05 sábado nov 2011

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amartya sen, capitalismo, crise, dívida, economista, fmi, mercado, setor financeiro

A situação da Grécia contribuiu para o regresso do político. Tenhamos alguma esperança.

 Amartya Sen – (Nobel da Economia 1998)

 Foi a Europa que conduziu o mundo à prática da democracia. Por isso, é preocupante que os perigos do governo democrático de hoje cheguem pela porta de trás da prioridade financeira e não estejam a merecer a atenção que merecem. Há questões importantes que têm de ser discutidas, como é o caso da governação democrática da Europa poder estar a ser ameaçada pelo papel excessivo das instituições financeiras e das agências de rating, que agora imperam livremente em algumas zonas do terreno político da Europa.

Dois assuntos diferentes têm de ser tratados de forma diferente. O primeiro diz respeito às prioridades democráticas, incluindo aquilo que Walter Bagehot e John Stuart Mill viam como uma necessidade de “governo por discussão”. Supõe que aceitamos que os poderosos patrões da finança têm uma ideia realista daquilo que é preciso fazer, o que reforçaria a necessidade de dar atenção às suas vozes num diálogo democrático. Mas isso não significa permitir que instituições financeiras internacionais e agências de rating tenham o poder unilateral de comandar governos democraticamente eleitos.

Em segundo lugar, é muito difícil ver que os sacrifícios que os líderes financeiros têm vindo a pedir aos países em situação difícil podem levar à viabilidade desses mesmos países e garantam a continuação do euro sem que haja reformas da fusão financeira e sem uma alteração dos membros da zona euro. O diagnóstico dos problemas financeiros feito pelas agências de rating não é a voz da verdade, como ela pretendem fazer crer. Vale a pena recordar que as avaliações das agências de rating a instituições financeiras e empresas antes da crise económica de 2008 apresentaram uma diferença tão abissal com a realidade que o Congresso dos Estados Unidos está a debater a possibilidade de as levar a tribunal.

Uma vez que a maior parte da Europa está agora empenhada em conseguir uma rápida baixa dos deficits públicos através da drástica redução da despesa pública, é essencial controlar de forma realista que impacto terão essas políticas, tanto na vida dos cidadãos como na receita pública através do crescimento económico. A moral elevada do fazer “sacrifício” tem, evidentemente, um efeito intoxicante. É a filosofia do espartilho “certo”: “Se a senhora se sente absolutamente confortável é porque, certamente, vai precisar do tamanho abaixo”. No entanto, se as exigências de adequação financeira também estão ligadas mecanicamente a cortes imediatos, o resultado pode ser a morte da galinha dos ovos de ouro do crescimento económico.

Esta preocupação diz respeito a vários países, da Grã-Bretanha à Grécia.

O ponto comum da estratégia de “sangue, suor e lágrimas” para a redução do deficit dá uma aparente plausibilidade daquilo que está a ser imposto aos países mais precários, como a Grécia e Portugal. E torna mais difícil a existência de uma voz política unida da Europa que possa levantar-se contra o pânico gerado nos mercados financeiros.

Para além de uma maior visão política, há necessidade de um pensamento económico claro. A tendência para ignorar a importância do crescimento económico na geração de receitas públicas deve ser um dos principais assuntos a ser discutido. A forte ligação entre crescimento e receitas públicas pode ser constatada em vários países, como a China e a Índia, os Estados Unidos e o Brasil.

Também aqui há lições a tirar da história. As enormes dívidas públicas de muitos países, no fim da Segunda Guerra Mundial, causaram uma grande ansiedade, mas o seu peso diminuiu rapidamente graças a um rápido crescimento económico. Da mesma maneira, o grande deficit que o presidente Clinton encontrou quando chegou ao governo, em 1992, dissolveu-se durante a sua presidência, com a grande ajuda de um rápido crescimento económico.

O temor de uma ameaça à democracia não se aplica, evidentemente, à Grã-Bretanha, uma vez que estas políticas foram decididas por um governo legitimado em eleições democráticas. Mesmo que o desenvolvimento de uma estratégia que não tenha sido revelada na campanha eleitoral possa ser razão para uma pausa, este é o género de liberdade que o sistema democrático permite a quem vence as eleições. Mas isso não elimina a necessidade de mais discussão pública, até mesmo na Grã-Bretanha. Também há que reconhecer que as políticas restritivas autoimpostas no Grã-Bretanha parecem dar plausibilidade às ainda mais drásticas medidas impostas à Grécia.

Como é que alguns países europeus se meteram nesta confusão? A extravagância de ter uma moeda única sem maior integração política e económica desempenhou parte do papel, mesmo depois de se saber das transgressões financeiras, sem dúvida cometidas, no passado, por países como a Grécia e Portugal (e mesmo depois da importante afirmação de Mario Monti, segundo o qual uma cultura de “deferência excessiva” na UE permitiu que essas transgressões continuassem por verificar).

Há que elogiar o governo grego – e George Papandreou, o primeiro-ministro, em particular – por estar a fazer o melhor que pode, apesar da resistência política, mas a sofrida vontade de Atenas em cumprir não elimina a necessidade europeia de refletir sobre a razoabilidade das exigências – o dos prazos – impostos à Grécia.

Para mim, não é consolo recordar que sempre me opus firmemente ao euro, apesar de ser um fervoroso apoiante da unidade europeia. A minha preocupação em relação ao euro dizia, em parte, respeito ao facto de cada um dos países abrir mão da liberdade de ter a sua própria política monetária e de fazer ajustes nas taxas de câmbio, o que muito ajudou, no passado, os países em dificuldades, e evitaria a enorme desestabilização das vidas humanas num esforço frenético para estabilizar os mercados financeiros. Pode abrir-se mão da liberdade monetária quando também há integração política e fiscal (como acontece nos vários Estados dos Estados Unidos), mas a casa meio construída da zona euro foi a receita para o desastre. A maravilhosa ideia de uma Europa democraticamente unida foi criada para incorporar um programa precário de fusão financeira incoerente.

Reordenar a zona euro agora tem muitos inconvenientes, mas os assuntos difíceis têm de ser discutidos com inteligência, em vez de permitir que a Europa fique à mercê de ventos financeiros alimentados por mentalidades tacanhas com um histórico de pensamento terrível.

O processo tem de começar por uma restrição imediata do poder sem oposição das agências de rating para darem ordens unilaterais. Estas agências são difíceis de disciplinar, apesar do seu negro historial, mas uma voz bem definida de governos legítimos pode fazer uma grande diferença enquanto as soluções são trabalhadas, especialmente se as instituições financeiras internacionais também colaborarem. Parar a marginalização da tradição democrática da Europa tem uma urgência difícil de exagerar. A democracia europeia é importante para a Europa – e para o mundo.

Um cafezinho…

02 quarta-feira nov 2011

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

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café, cafeterias, cultura, livraria, Natal, P.Negra, Petrópolis

Bem ali, à beirinha… do outro lado, tomo café ou chá, compro patês e chocolates (chokito, da Nestlé; não é nenhum Kopenhagen, mas, pra quem conheceu o batom como primeiro derivado do cacau… tá bom demais da conta). Consumo na padaria aqui pertinho. Se fosse em Paris seria no Fauchon… Aqui no Brasil esses espaços são chamados de gourmet. É uma “mania nacional”, esperta, que cobra mais caro da gente pelo que deveria ser normal. Qualquer raspinha de Paris é goumert no Brasil. Aqui em Natal basta dar uma voltinha por alguns bairros da cidade e se observa goumert pra todos os gostos.

Mas a novidade na terrinha são os cafés. Lugares de sociabilidade, ao longo dos tempos, que passaram por processos de ressignificação mundo afora, ressurgem com força e que podem ser evidenciado pelas várias formas de organização: franquias (conheço três, uma em Lagoa Nova e duas na P. Negra), que se organizam em cadeias… Alguns cafés têm traço artesanal, outros, clássicos. E ainda, alguns tipos de sociabilidade (socialização, interação…). Bom, nem preciso dizer que eles variam de lugar pra lugar, dentro de um mesmo território… E aí tem a ver com os significados de cada pedaço de sociabilidade da cidade. Pra ficar somente num exemplo: em Ponta Negra os turistas, gringos são maiorias; já em Lagoa Nova e Petrópolis, “é nós”.

Voltando a nossa conversa, em Paris, pelo que escuto, esses cafés seriam simplesmente um café, um sítio, um cantinho, bem organizadinho, agradável de estar. Aqui, são espaços de luxo. Às vezes, penso que é mais uma perfumaria que um café. Por isso, prefiro os de livrarias onde ando, circulo, bato papo, pego livros e leio fragmentos tomando, apenas, dois, três dedos de café… Sem medo de incomodar os donos do negócio por estar ali “dando uns goles” num tiquinho, apenas.

Críticas revelam preconceito contra ascensão de Lula, avalia pesquisadora da USP

01 terça-feira nov 2011

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

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cancer, ciencia politica, classe, doença, Lula, preconceito, Saúde, Sus

Do Terra Magazine

A notícia de que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva passará por um tratamento contra câncer na laringe no hospital Sírio Libanês foi recebida com protestos em redes sociais. Na internet, um grupo pede que o petista utilize hospitais públicos e o Sistema Único de Saúde (SUS). Para a pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Sandra Regina Nunes, “as críticas se apoiam no fato de Lula ter sido analfabeto e se tornado presidente, de ele ter ascendido”.

– Por que não se faz uma manifestação para que todo mundo use o SUS? A questão é menos de fidelidade com os ideais políticos e mais um preconceito. É como se questionassem: “Por que Lula tem que se tratar no Sírio Libanês? O lugar de onde ele veio não permite que isso aconteça” – questiona Sandra, membro do Laboratório de Estudos da Intolerância e professora de comunicação da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado).

Uma campanha no Facebook pedindo que Lula se trate no SUS já ganhou mais de 800 adeptos. Os internautas também se organizam para divulgar as críticas em sites de notícias. A rede de TV internacional CNN, por exemplo, publicou a informação sobre a doença do ex-presidente e recebeu uma série de comentários irônicos de brasileiros sobre o sistema de saúde nacional.

Leia a entrevista.

Terra Magazine – O anúncio de que o ex-presidente Lula sofre de câncer foi seguido por manifestações críticas e um protesto para que ele se trate no SUS. Por que esse tipo de expressão acontece e se espalha na internet?

Sandra Regina Nunes – O que me parece é que tem algo bastante próprio daqui do Brasil. As críticas se apoiam no fato de Lula ter sido analfabeto e se tornado presidente, de ele ter ascendido. Isso é visto quase como uma afronta. Faz com que as pessoas acreditem que necessariamente ele deveria ser fiel àquilo que ele pregava. Por muitas vezes ouvi pessoas dizendo “Ah, ele era trabalhador, não podia estar usando Armani”. Agora dizem que o Lula tem que usar o SUS. Não me parece que aconteceu isso quando alguém do PSDB tem algum tipo de problema de saúde. Por que não se faz uma manifestação para que todo mundo use o SUS? A questão é menos de fidelidade com os ideais políticos e mais um preconceito. É como se questionassem: “Por que Lula tem que se tratar no Sírio Libanês? O lugar de onde ele veio não permite que isso aconteça”.

É curioso porque em geral anúncios como o do ex-presidente – de uma doença – geram apenas comoção…

Eu acho que as pessoas não estão tratando como doença. A ideia é mais questionar o motivo de Lula estar usando um produto de luxo.

As redes sociais ampliam esse tipo de reação negativa?

As redes sociais fizeram com que as pessoas tivessem maior liberdade de expressão. Eu acredito que as pessoas poderiam usar isso de forma mais interessante. Existem na rede movimentos bastante positivos, por exemplo, em apoio à saúde da mulher. Então, utilizar as redes sociais para dar vazão à indignação pode ser ruim, mas tem lados positivos. As redes sociais têm essa dimensão que é muito boa. É a possibilidade de expressão.

Seria papel da imprensa desestimular?

Eu acho que o gesto de expressão não deve se impedir jamais. É preciso dar voz a todo mundo. Mas o papel da imprensa deve ser pontuar o que determinadas falas representam. Ou seja, dizer que tipo de movimento é esse e o que é que ele traz.

Mote

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  • O fim e o Princípio, filme de Eduardo Coutinho – Uma memória do Sertão
  • A Cantoria e o Blues
  • As Rosas Não Falam – Cartola
  • O Eu do Poeta
  • Casi sin querer
  • Vida e Obra de Humberto Teixeira no Cinema – O homem que engarrafava nuvens
  • Chico Buarque – O Meu Amor”
  • Paulinho da Viola: “Meu mundo é hoje”
  • Amar… por Mário Quintana
  • Trivial da semana: Geraldo Azevedo, “Dona da Minha Cabeça”
  • Mário Quintana: o tempo…
  • Mart’nalia e Djavan cantam Molambo
  • Aniversário da Revolução Farroupilha
  • Morreu Moreno, um dos últimos cangaceiros de Lampião
  • Chico César e Maria Bethania – A Força Que Nunca Seca
  • A cantoria
  • Poeta popular: João Melchíades Ferreira
  • Jackson do Pandeiro
  • Pelo Telefone – primeiro samba gravado
  • J.Borges – cordelista, xilogravurista
  • O Umbuzeiro…. Imbú
  • Trivial do fim de semana – Maciel Melo, caboclo sonhador
  • Cururu, traço das variantes da música sertaneja de raiz
  • Paisagem do interior
  • Na garupa
  • Silvério Pessoa – bate o mancá
  • “Muita gente desconhece” João do Vale
  • Kara Veia na Bodega do Zé – maior vaqueiro aboiador do país.
  • Xangai na bodega do Zé
  • Maciel Melo na missa do poeta, PE
  • Aniversário da morte de Luiz Gonzaga – entrevista com Leda Nagle
  • Se tu quiser – Santana, o cantador
  • Pesquisa do Datafolha apura dados somente de quem tem TELEFONE
  • Vox Populi – quando filtra os questionários por telefone… Serra empata com Dilma
  • Matança – XANGAI
  • (sem título)
  • Dilma abre 8 pontos na frente de Serra (41% x 33%)
  • Dilma 43 X Serra 37, Nova pesquisa Vox Populi
  • Simplesmente, lindo…. a bodega Paraopeba
  • OLINDA – capital simbólica do Brasil
  • Paulo Moura & Heraldo do Monte e Arthur Moreiral Lima…. Naquele tempo…. o sapo era cururu
  • Pinto do Monteiro
  • Morgan Freeman: Lula colocou o Brasil no Mapa Mundi
  • Trovador de São José do Egito recita versos
  • A farinha – Djavan
  • Um índio…
  • A eleição pode ser decidida já no 1º turno
  • Raul Seixas – entrevistado por Nelson Mota
  • Dilma desmascara Folha de São Paulo. Pede provas do Dossiê inventado por Jornal
  • O jornalismo POSTE da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo
  • As enchentes no Nordeste – Lições ignoradas
  • ESQUECERAM DO SERRA

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