O rio nunca está feito, como não está o coração. Ambos são sempre nascentes, sempre nascendo. (Mia Couto. A Chuva Pasmada).
Já era pra ter plantado aqui o que entrou no meu juízo depois da leitura de dois livros do grande Mia Couto. Nem carece falar muito dele, pois já falei desse moçambicano umas poucas de vezes aqui no roçado. Mas é que tem um deles, “A Chuva Pasmada”, que li de forma muito aperreada e engraçada. Quase todos os dias eu ia à livraria Cortez, aqui pertinho, mais ou menos umas 100 braças aqui de casa, ler o danado do livro. Viciou-me, visse!!. A leitura + o café expresso.
Em Chuva Pasmada quem narra o romance é um menininho que entrecruza com os diálogos entre os personagens. São 17 capítulos onde um avô e um menino protagonizam a história. E ainda, o pai, a mãe e uma tia solteira. Os pais consideram o ‘meninin’ uma criança espantada, pasmada: lerdo no fazer e custoso (demorado) no pensar. E aí uma ‘comparaçãozinha’ arretada: a chuva que tardava a vir e era reclamada por todo mundo, era tão ‘pasmadinha’, lerda, como o menino.
Mas por qual razão a chuva não caia naquele pedaço africano? Por que o rio estava ficando seco? Não seria por conta da fabrica que soltava fumaça? Essas questões não podiam ser respondidas dentro de um raciocínio lógico, por isso será necessário recorrer às lendas e aos mitos. É no momento que ocorre ao avô contar a história sobre o rio (a lenda de Ntoweni). Esta lenda discorre acerca do nascimento do rio que banha aquela terra… Aí o menino inicia as observações sobre o avô. O avô é ‘mermin’ o rio: “o rio emagrecera mais do que o avô, os terrenos encarquilharam, o milho amarelecia” (p.14).
Por fim, na última parte, o avô pega um barquinho e sai deslizando na água que ainda resta do rio. O menino vê o barquinho se desmanchando no horizonte, diluindo-se no azul da correnteza e dentro dele está o avô que parte para não mais voltar.
Já o outro, “Mar Me Quer”, foi um presente que ganhei de uma amiga. Esse li com mais tempo… Claro, quando dava… Ora no banheiro, ora dentro do carro, ora na rede… Pra onde ia levava o “mar me quer” comigo. E por isso não me demorei muito na leitura.
Do que ficou no meu juízo das leituras dos livros é que somos filhos da água e só nos tornaremos terra, poeira, pó, quando secarmos, feito um torrão tal qual um açude esturricado cravado no sertão. Resta-nos não nos acabar de sequidão, de deixarmos minguar, antes que o “fio do tempo nos dite a morte”.
São estórias paridas do misto de calor e frio, do pouco definido, das estranhezas, bem fincadas no lugar e nas personagens friccionadas, como são todos os escritos do moçambicano.
Fico por aqui… e noto que há traços do Guimarães Rosa na obra do Mia Couto, por isso a leitura é interessantíssima….. Podem conferir!
Foi a Europa que conduziu o mundo à prática da democracia. Por isso, é preocupante que os perigos do governo democrático de hoje cheguem pela porta de trás da prioridade financeira e não estejam a merecer a atenção que merecem. Há questões importantes que têm de ser discutidas, como é o caso da governação democrática da Europa poder estar a ser ameaçada pelo papel excessivo das instituições financeiras e das agências de rating, que agora imperam livremente em algumas zonas do terreno político da Europa.
Dois assuntos diferentes têm de ser tratados de forma diferente. O primeiro diz respeito às prioridades democráticas, incluindo aquilo que Walter Bagehot e John Stuart Mill viam como uma necessidade de “governo por discussão”. Supõe que aceitamos que os poderosos patrões da finança têm uma ideia realista daquilo que é preciso fazer, o que reforçaria a necessidade de dar atenção às suas vozes num diálogo democrático. Mas isso não significa permitir que instituições financeiras internacionais e agências de rating tenham o poder unilateral de comandar governos democraticamente eleitos.
Em segundo lugar, é muito difícil ver que os sacrifícios que os líderes financeiros têm vindo a pedir aos países em situação difícil podem levar à viabilidade desses mesmos países e garantam a continuação do euro sem que haja reformas da fusão financeira e sem uma alteração dos membros da zona euro. O diagnóstico dos problemas financeiros feito pelas agências de rating não é a voz da verdade, como ela pretendem fazer crer. Vale a pena recordar que as avaliações das agências de rating a instituições financeiras e empresas antes da crise económica de 2008 apresentaram uma diferença tão abissal com a realidade que o Congresso dos Estados Unidos está a debater a possibilidade de as levar a tribunal.
Uma vez que a maior parte da Europa está agora empenhada em conseguir uma rápida baixa dos deficits públicos através da drástica redução da despesa pública, é essencial controlar de forma realista que impacto terão essas políticas, tanto na vida dos cidadãos como na receita pública através do crescimento económico. A moral elevada do fazer “sacrifício” tem, evidentemente, um efeito intoxicante. É a filosofia do espartilho “certo”: “Se a senhora se sente absolutamente confortável é porque, certamente, vai precisar do tamanho abaixo”.No entanto, se as exigências de adequação financeira também estão ligadas mecanicamente a cortes imediatos, o resultado pode ser a morte da galinha dos ovos de ouro do crescimento económico.
Esta preocupação diz respeito a vários países, da Grã-Bretanha à Grécia.
O ponto comum da estratégia de “sangue, suor e lágrimas” para a redução do deficit dá uma aparente plausibilidade daquilo que está a ser imposto aos países mais precários, como a Grécia e Portugal. E torna mais difícil a existência de uma voz política unida da Europa que possa levantar-se contra o pânico gerado nos mercados financeiros.
Para além de uma maior visão política, há necessidade de um pensamento económico claro. A tendência para ignorar a importância do crescimento económico na geração de receitas públicas deve ser um dos principais assuntos a ser discutido. A forte ligação entre crescimento e receitas públicas pode ser constatada em vários países, como a China e a Índia, os Estados Unidos e o Brasil.
Também aqui há lições a tirar da história. As enormes dívidas públicas de muitos países, no fim da Segunda Guerra Mundial, causaram uma grande ansiedade, mas o seu peso diminuiu rapidamente graças a um rápido crescimento económico. Da mesma maneira, o grande deficit que o presidente Clinton encontrou quando chegou ao governo, em 1992, dissolveu-se durante a sua presidência, com a grande ajuda de um rápido crescimento económico.
O temor de uma ameaça à democracia não se aplica, evidentemente, à Grã-Bretanha, uma vez que estas políticas foram decididas por um governo legitimado em eleições democráticas. Mesmo que o desenvolvimento de uma estratégia que não tenha sido revelada na campanha eleitoral possa ser razão para uma pausa, este é o género de liberdade que o sistema democrático permite a quem vence as eleições. Mas isso não elimina a necessidade de mais discussão pública, até mesmo na Grã-Bretanha. Também há que reconhecer que as políticas restritivas autoimpostas no Grã-Bretanha parecem dar plausibilidade às ainda mais drásticas medidas impostas à Grécia.
Como é que alguns países europeus se meteram nesta confusão? A extravagância de ter uma moeda única sem maior integração política e económica desempenhou parte do papel, mesmo depois de se saber das transgressões financeiras, sem dúvida cometidas, no passado, por países como a Grécia e Portugal (e mesmo depois da importante afirmação de Mario Monti, segundo o qual uma cultura de “deferência excessiva” na UE permitiu que essas transgressões continuassem por verificar).
Há que elogiar o governo grego – e George Papandreou, o primeiro-ministro, em particular – por estar a fazer o melhor que pode, apesar da resistência política, mas a sofrida vontade de Atenas em cumprir não elimina a necessidade europeia de refletir sobre a razoabilidade das exigências – o dos prazos – impostos à Grécia.
Para mim, não é consolo recordar que sempre me opus firmemente ao euro, apesar de ser um fervoroso apoiante da unidade europeia. A minha preocupação em relação ao euro dizia, em parte, respeito ao facto de cada um dos países abrir mão da liberdade de ter a sua própria política monetária e de fazer ajustes nas taxas de câmbio, o que muito ajudou, no passado, os países em dificuldades, e evitaria a enorme desestabilização das vidas humanas num esforço frenético para estabilizar os mercados financeiros. Pode abrir-se mão da liberdade monetária quando também há integração política e fiscal (como acontece nos vários Estados dos Estados Unidos), mas a casa meio construída da zona euro foi a receita para o desastre. A maravilhosa ideia de uma Europa democraticamente unida foi criada para incorporar um programa precário de fusão financeira incoerente.
Reordenar a zona euro agora tem muitos inconvenientes, mas os assuntos difíceis têm de ser discutidos com inteligência, em vez de permitir que a Europa fique à mercê de ventos financeiros alimentados por mentalidades tacanhas com um histórico de pensamento terrível.
O processo tem de começar por uma restrição imediata do poder sem oposição das agências de rating para darem ordens unilaterais. Estas agências são difíceis de disciplinar, apesar do seu negro historial, mas uma voz bem definida de governos legítimos pode fazer uma grande diferença enquanto as soluções são trabalhadas, especialmente se as instituições financeiras internacionais também colaborarem. Parar a marginalização da tradição democrática da Europa tem uma urgência difícil de exagerar. A democracia europeia é importante para a Europa – e para o mundo.
No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião. Saiba como reconhecê-lo.
DA CARTA CAPITAL
Por Cynara Menezes. Foto: Reprodução
Em 1996, três jornalistas –entre eles o filho do Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, Álvaro –lançaram com estardalhaço o “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”. Com suas críticas às idéias de esquerda, o livro se tornaria uma espécie de bíblia do pensamento conservador no continente. Vivia-se o auge do deus mercado e a obra tinha como alvo o pensamento de esquerda, o protecionismo econômico e a crença no Estado como agente da justiça social. Quinze anos e duas crises econômicas mundiais depois, vemos quem de fato era o perfeito idiota.
Mas, quem diria, apesar de derrotado pela história, o Manual continua sendo não só a única referência intelectual do conservadorismo latino-americano como gerou filhos. No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião que, no fundo, disfarça sua real ideologia e as lacunas em sua formação. Como de fato a obra de Álvaro e companhia marcou época, até como homenagem vamos chamá-los de “perfeitos imbecis politicamente incorretos”. Eles se dividem em três grupos:
1. o “pensador” imbecil politicamente incorreto: ataca líderes LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trânsgeneros) e defende homofóbicos sob o pretexto de salvaguardar a liberdade de expressão. Ataca a política de cotas baseado na idéia que propaga de que não existe racismo no Brasil. Além disso, ações afirmativas seriam “privilégios” que não condizem com uma sociedade em que há “oportunidades iguais para todos”. Defende as posições da Igreja Católica contra a legalização do aborto e ignora as denúncias de pedofilia entre o clero. Adora chamar socialistas de “anacrônicos” e os guerrilheiros que lutaram contra a ditadura de “terroristas”, mas apoia golpes de Estado “constitucionais”. Um torturado? “Apenas um idiota que se deixou apanhar.” Foge do debate de idéias como o diabo da cruz, optando por ridicularizar os adversários com apelidos tolos. Seu mote favorito é o combate à corrupção, mas os corruptos sempre estão do lado oposto ao seu. Prega o voto nulo para ocultar seu direitismo atávico. Em vez de se ocupar em escrever livros elogiando os próprios ídolos, prefere a fórmula dos guias que detonam os ídolos alheios –os de esquerda, claro. Sua principal característica é confundir inteligência com escrever e falar corretamente o português.
2. o comediante imbecil politicamente incorreto: sua visão de humor é a do bullying. Para ele não existe o humor físico de um Charles Chaplin ou Buster Keaton, ou o humor nonsense do Monty Python: o único humor possível é o que ri do próximo. Por “próximo”, leia-se pobres, negros, feios, gays, desdentados, gordos, deficientes mentais, tudo em nome da “liberdade de fazer rir.” Prega que não há limites para o humor, mas é uma falácia. O limite para este tipo de comediante é o bolso: só é admoestado pelos empregadores quando incomoda quem tem dinheiro e pode processá-los. Não é à toa que seus personagens sempre estão no ônibus ou no metrô, nunca num 4X4. Ri do office-boy e da doméstica, jamais do patrão. Iguala a classe política por baixo e não tem nenhum respeito pelas instituições: o Congresso? “Melhor seria atear fogo”. Diz-se defensor da democracia, mas adora repetir a “piada” de que sente saudades da ditadura. Sua principal característica é não ser engraçado.
3. o cidadão imbecil politicamente incorreto: não se sabe se é a causa ou o resultados dos dois anteriores, mas é, sem dúvida, o que dá mais tristeza entre os três. Sua visão de mundo pode ser resumida na frase “primeiro eu”. Não lhe importa a desigualdade social desde que ele esteja bem. O pobre para o cidadão imbecil é, antes de tudo, um incompetente. Portanto, que mal haveria em rir dele? Com a mulher e o negro é a mesma coisa: quem ganha menos é porque não fez por merecer. Gordos e feios, então, era melhor que nem existissem. Hahaha. Considera normal contar piadas racistas, principalmente diante de “amigos” negros, e fazer gozação com os subordinados, porque, afinal, é tudo brincadeira. É radicalmente contra o bolsa-família porque estimula uma “preguiça” que, segundo ele, todo pobre (sobretudo se for nordestino) possui correndo em seu sangue. Também é contrário a qualquer tipo de ação afirmativa: se a pessoa não conseguiu chegar lá, problema dela, não é ele que tem de “pagar o prejuízo”. Sua principal característica é não possuir idéias além das que propagam os “pensadores” e os comediantes imbecis politicamente incorretos.
O cara que fez essas fotos não é um fotógrafo… daqueles que a gente conhece: maquina na mão, flash.. ou daqueles (as) que com uma digital se põe a apertar o botão a torto e a direito em tudo que ver pela frente. O autor da arte é o Jim Kazanjian, norte americano, inventor dessas imagens surrealistas refinadas no juízo da criação combinada com imaginação e muita tecnologia. A ferramenta do artista é simplesmente um software, o Photoshop, que ele utiliza para criar as invencionices caóticas que dão sentido a imagem.
A atriz anglo-americana Elizabeth Taylor morreu hoje, aos 79 anos, em Los Angeles. A lendária atriz, que protagonizou “Gata em Telhado de Zinco Quente”, “Cleópatra”, “Butterfield8” e “Quem tem medo de Virginia Woolf?”, também ficou imortalizada nesta obra de Andy Warhol.
“(…)Elizabeth Taylor é, em minha opinião, a maior atriz da história do cinema. Ela entende intuitivamente a câmera e suas intimidades não verbais. Abrindo os olhos violeta, conduz-nos ao reino líquido da emoção, que habita por intuição pisciana. Richard Burton disse que ela o ensinou a atuar para a câmera. Economia e contenção são essenciais. Em sua melhor forma, Elizabeth Taylor simplesmente é. Uma carga elétrica, erótica, faz vibrar o espaço entre o rosto dela e a lente. É um fenômeno extra-sensório, pagão.
Meryl Streep, à maneira protestante, entusiasma-se com as palavras; exibe sotaques inteligentes como uma máscara para suas deficiências mais profundas. (E não sabe dizer uma fala judia; destruiu o cáustico diálogo de Nora Ephron em A difícil arte de amar.) O trabalho de Meryl não vai longe. Tentem dublá-la para cinemas indianos: não restará nada, só aquele rosto ossudo, cavalar, movendo os lábios. Imaginem, por outro lado, atrizes menos técnicas como Heddy Lamarr, Rita Hayworth, Lana Turner: essas mulheres têm um apelo internacional e universal. Seriam belas no Egito, Grécia, e Roma antigos, na Borgonha medieval ou na Paris do século XIX. Susan Haywad fez Betsabé. Tentem imaginar Meryl Streep num épico bíblico! Ela é incapaz de fazer os grandes papéis legendários ou mitológicos. Não tem poder elemental, não tem aquela sensualidade tórrida.(…)
Elizabeth Taylor é uma criação o show business, dentro do qual ela tem vivido desde que começou como atriz infantil. Ela tem a hiper-realidade de uma visão de sonho. Meryl Streep, com seu chato decoro, é bem-vinda à sua pose de atriz esforçada e despretensiosa. Eu prefiro a velha Hollywood lixo, cafona, a qualquer hora. Elizabeth Taylor, entusiasticamente comendo, bebendo, no cio, rindo, xingando, trocando de maridos e comprando diamantes aos montes, é uma personalidade em escala grandiosa. É uma monarca numa época de tristes liberais. Como estrela, ela não tem, ao contrário de Greta Garbo, Marlene Dietrich e Katharine Hepburn, qualquer ambiguidade sexual em sua persona. Terrena e sensual, apaixonada e voluntariosa, mas terna e empática. Elizabeth Taylor é a mulher em suas muitas fases lunares, admirada por todo o mundo”.
Trecho de Rainha Pagã de Hollywood, texto de Camille Paglia, publicado na Revista Penthouse em 1992, parte da coletânea Sexo, Arte e Cultura Americana (Companhia das Letras).
Assista abaixo, curta “Puce Moment”, de Kenneth Anger, cuja incorporação foi proibida… É sobre atrizes de Hollywood em suas mansões durante o final dos anos de 1940.
Logo após a transição para a modernidade (período em que Elizeth Cardoso se consagra como diva), a música brasileira dos anos 60 teve, quase ao mesmo tempo, três cantoras maravilhosas, com grandes composições: Maria Bethania, Elis Regina e Gal Costa. Cantaram o que de melhor fizeram para a canção brasileira (de Tom Jobim, Carlos Lyra, Edu Lobo, Menescal, Chico Buarque, Gil, Caetano, Roberto Carlos, Milton Nascimento, João Bosco, Marcos Valle, Hime, Paulinho da Viola, Belckior, e tantos outros. Digam-me, que outros intérpretes puderam desfrutar de tantas coisas boas, diga-se de passagem, inéditas, vinda desses caras, aí?
Bem, hoje vamos de Gal. Vocês devem notar que ela transita de uma voz doce, açucarada (um João Gilberto de saia) a um canto rasgado, sujo, meio Janis Joplin. Canta Jards Macalé, Luis Melodia, Wally Salomão (fase hippie que resistia a ditaduta… Gil e Caetano foram exilados). Foi assim quando defendeu “Divino Maravilhoso” no 4º Festival da TV Record, em 1968; tempos do Tropicalismo. E aí surge uma Gal que entoa a guitarra de Lanny Gordin. Ainda em 68, Gal dá outra mudada… Grava o disco “Cantar” e inicia outro repertório com canções do João Donato e Carlos Lyra, uma fase em se preocupada mais com a respiração e larga a agressividade. Esse novo caminho segue com Dorival Caymmi, Chico Buarque, Gil, Suely Costa, Gonzaguinha, Milton, Caetano, Djavan.
Em 1979, ela coloca batom vermelho, calça salto alto e se enfeita de vermelho com uma flor espetada nos cabelos, vestido sensual. É transformada num mulherão. É a “Gal Tropical”, canta, com naturalidade, emitindo a voz sem esforço, segura, espontânea, sem exageros, “Samba Rasgado”, “Noites Cariocas”, “Juventude Transviada” “Estrada do Sol” e, maliciosamente dançante, a velha marchinha de Braguinha, do Carnaval de 36, “Balancê”.
Em seguida, canta Ary Barroso (“Tu”, “Folha Morta”, “Inquietação” e “Jogada pelo Mundo”). Gravao disco “Fantasia”. A cada fraquejada de um hit nas rádios, outro se sucede com igual ímpeto. “Meu bem, Meu mal”, “Açaí”, “Massa Real” e o top, “Festa do Interior”, de dois mestres, Morais Moreira e Abel Silva. Em “O Amor”, Gal explode num agudo com a perícia de uma lancetada de bisturi dada por exímio cirurgião. Paralelamente, toma parte num disco de outra gravadora, com João Gilberto, decorrência do comentado especial na TV Tupi ao lado de Caetano.
Já em 1982, grava o penúltimo disco na Polygram. O título resume sua carreira: “Minha Voz”. Amadurecida o suficiente para não se tornar uma clone dela mesma, Gal Costa “fecha a tampa” dos 16 anos na gravadora com duas interpretações definitivas no disco “Baby Gal”, “Mil Perdões” e “Eternamente”. O timbre doce se mantém na região grave e, na aguda, cresce emocionadamente, aliando à técnica próxima da perfeição uma afinação fisicamente irretocável.
Pois bem, tudo isso para dizer que Gal Costa tem relançada sua obra gravada nos 16 anos de contrato com a gravadora Philips/Phonogram/Polygram, reunida pela Universal. E posso dizer que ficou belo, divino maravilhoso.
Antes de ontem, coloquei, aqui, minha opinião pessoal sobre Vargas Llosa, não sobre sua obra mas sobre seu engajamento político… E recebi alguns comentários sobre o meu posionamento. Pois bem, achei um artigo do Haroldo Ceravolo Sereza muito interessante sobre o tema.
Por Haroldo Ceravolo Sereza
O prêmio Nobel de Literatura para Mario Vargas Llosa certamente provocará muita discussão, dado que, há algumas décadas, Vargas Llosa tornou-se um colunista conservador política e artisticamente, um crítico feroz da esquerda latino-Famericana, que não conseguiu congregar nem mesmo quando enfrentou no Peru, com um discurso liberal, a nascente ditadura de Alberto Fujimori (a quem a política externa brasileira de viés conservador ofereceu a mão).
Vargas Llosa, nascido em 1936, em Arequipa, no sul do Peru, como se sabe, é mais um representante da vaga literária latino-americana que conquistou a Europa nas décadas de 1960 e 1970 do século passado. Esta onda já rendeu o Nobel a Miguel Ángel Asturias (1967), Pablo Neruda (1971), García Márquez (1982) e Octávio Paz (1990). Outro nome que ganhou dimensão internacional devido a essa movimentação foi o do mexicano Carlos Fuentes, que vai provavelmente figurar por mais uns anos na lista de premiáveis. Leia Mais
(2′00” / 481 Kb) – O coordenador da Rede Ecosocialista e assessor da candidata à presidência da República, Marina Silva, Pedro Ivo Batista, avalia que a coligação de Dilma Rousseff (PT), saiu na frente na disputa pelo apoio do PV. (ouvir entrevista)
O PT abriu a possibilidade de incluir no programa de governo pontos reivindicados pela candidata Marina Silva, que ficou em 3º lugar nas eleições. Já o candidato José Serra (PSDB) ofereceu quatro ministérios para conquistar o apoio do PV.
Pedro Ivo, que saiu do PT e entrou no PV junto com Marina, acredita que é positiva a proposta de Dilma. Entre os pontos que Marina quer discutir com o PT está a manutenção do Código Florestal.
“A Marina já deixou claro que esse debate é programático. Nenhum tipo de toma-lá-da-cá ela aceita. Ela acha que pode contribuir para o Brasil através dessa plataforma. É isso que ela quer discutir. Essa questão de oferecimento de quatro ministérios ao PV ela já condenou publicamente. O PT, por enquanto, de forma correta, procurou – parabenizou a própria ministra Dilma – e tem buscado fazer uma conversa mais programática. Isso é positivo”.
Batista avalia positivamente a política econômica, a política externa e as políticas de inclusão social do governo Lula, mas avalia que ficou a desejar na questão da sustentabilidade, da reforma agrária e na reforma política. Por isso, ele defende uma discussão programática em torno do apoio a Dilma no 2º turno.
“Sem dúvida, o governo Lula tem uma tradição democrática muito maior e tem uma relação muito mais respeitosa do ponto de vista das liberdades democráticas e sindicais, do que o governo tucano, Tucano é repressão. Por outro lado, isso não significa dizer que simplesmente essa questão é suficiente.”
O Nobel da Paz vai para Liu Xiaobo, ativista desde os tempos da Praça Tiananmen, condenado em 2009 a onze anos de prisão por defender reformas democráticas para o seu país, nomeadamente através da publicação de textos na internet e da participação na redação da Carta 08, um manifesto publicado em Dezembro de 2008.
A Carta 08, entretanto, assinada por milhares de pessoas, dentro e fora da China, exigia, entre outras medidas, um poder judicial independente, liberdade de associação, de religião e de expressão e proteção do meio ambiente. Ele buscou inspiração na velha Carta 77 – checoslovaca
Trailer do filme Love is a many splendored thing (Suplício de uma saudade, título no Brasil), com Jennifer Jones como Han Suyin e William Holden como Mark Elliott.
Encostei-me a ti, sabendo que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí.
Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
No início da campanha, a mulher era tratada pelos espertos como poste. Começa a crescer nas pesquisas, continua como poste, na visão dos espertos. Passa o candidato dos jornais… que insistem espertamente no poste. No Roda Viva, há uma polêmica entre o poste e o esperto: o poste deixa o esperto com cara de poste.
Chamar o pequeno de poste é grosseria; chamar o grande, é despeito. Manter a mesma grosseria nas duas circunstâncias, é falta de esperteza, ou como se fazer jornalismo com postes. Descrever uma entrevista onde quem entrou como esperto saiu como poste, é ridículo.
A divulgação da pesquisa do IBOPE – mostrando Dilma com 38,3% e Serra com 32,3% – escondeu um ponto crucial. A vitória, no primeiro turno, é para quem tiver mais de 50% dos votos válidos. Os percentuais divulgados se referem a todo o universo de eleitores.
Se descontar Brancos/Nulos (6,3%) e Não Sabe (13,8%), Dilma passa a contar com 47,9% dos votos válidos.
Tem mais. 25% dos eleitores ainda não sabem que Dilma é candidata de Lula. Se 3/5 deles, depois de informados, decidirem pelo voto nela, serão 15 pontos adicionais.
A grande dúvida é como será a campanha de Serra, à luz dessas conclusões. Pode radicalizar, falando para dentro, para seu núcleo duro; ou poderá, num ato de despreendimento, pensar no futuro das oposições e se decidir por um discurso construtivo. Como lembrou um analista, ou se comporta como o PT em 1994 ou como o PT em 1998.
A radicalização irá comprometer a construção mais que necessária da oposição. Resta saber qual o grau de despreendimento do candidato Serra.
O técnico da seleção brasileira abriu fogo contra a Rede Globo.Dunga deu na canela do comentarista Alex Escobar, da Globo. Poucas horas depois, um dos apresentadores do programa Fantástico, Tadeu Schmidt, da África leu um editorial da emissora detonando Dunga.(leia o caso aqui)
O motivo da briga foi por que a Globo negociou diretamente com Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), entrevistas exclusivas com três jogadores da seleção, entre os quais Luis Fabiano. As entrevistas iriam ser exibidas durante o programa “Fantástico”, no domingo, horas depois da partida contra Costa do Marfim, vencida pelo Brasil por 3 a 1. Dunga vetou o acerto.
O incidente entre Dunga e Alex Escobar ocorreu quando o jornalista conversava ao telefone com o apresentador Tadeu Schmidt exatamente sobre este assunto. O técnico percebeu o que ocorria e perguntou: “Algum problema?” Escobar respondeu: “Nem estou olhando para você, Dunga”. O técnico replicou em voz baixa, o suficiente para ser captado pelo microfone à sua frente: “Besta, burro, cagão!”(Veja o vídeo)
Horas depois do incidente, durante o “Fantástico”, Schmidt falou: “O técnico Dunga não apresenta nas entrevistas comportamento compatível de alguém tão vitorioso no esporte. Com frequência, usa frases grosseiras e irônicas”. O jornalista da Globo não mencionou, no entanto, o motivo do atrito, ou seja, a recusa do técnico em aceitar um acordo feito entre o presidente da CBF e a emissora.
A reação do povo foi imediata.O editorial lido no programa “Fantástico”, da Rede Globo, deu repercussão no mundo virtual. .E pela primeira vez na história o Brasil inteiro apóia o técnico da Seleção. Só a Globo para conseguir isso…
Dentre os assuntos mais comentados no Twitter nesta segunda-feira (21), a frase “Cala boca, Tadeu Schmidt” era líder absoluta –superou até a antecessora “Cala Boca, Galvão”, que liderou por dias seguidos os Trending Topics.
E não parou por ai. Em apoio ao técnico da seleção brasileira, os twiteiros lançaram o “DiaSemGlobo”, que será nessa sexta-feira, quando o Brasil vai jogar com a seleção de Portugal, no encerramento da primeira fase da copa.
A Uol/Folha tucana, acha crime acreditar em Deus
Kaká citou o jornalista Juca Kfouri, blogueiro do Uol, para iniciar o desabafo em uma entrevista hoje.
“Kfouri tem dirigido os canhões para mim, não profissionalmente, mas de uma forma pessoal, direcionada a minha fé em Jesus Cristo. Respeito ele como ateu, mas espero respeito com aquele que professa sua fé através de Jesus Cristo”, declarou o meio-campo.
“E digo isso não só a meu respeito, mas falando de milhões de brasileiros que creem em Deus e em Jesus Cristo”, completou Kaká.
O massacre de Eldorado dos Carajás completava um ano. Dezenove integrantes do MST haviam sido brutalmente assassinados pela polícia. Em abril de 1997, o fotógrafo Sebastião Salgado, o escritor português José Saramago e o compositor Chico Buarque lançam um livro/cd para relembrar o fato e marcar a importância da luta pelo chão: Terra (Companhia das Letras, 1999).
As fotos de Salgado retratam de forma realista os assentamentos e a vida dos trabalhadores rurais. A introdução, a cargo de Saramago, é dura. Lembra das promessas não-cumpridas do governo brasileiro pela reforma agrária.
Entre as canções de Chico, duas exclusivas: Levantados do Chão (com Milton Nascimento) e Assentamento, que narra o sentimento de um migrante ao perceber que a cidade grande “não mora” mais nele. (informações de Brasil Almanaque da Cultura Popular)
Prefácio do livro, escrito por José Saramago. Clique Aqui
É difícil defender
só com palavras a vida
(ainda mais quando ela é
esta que vê, severina). João Cabral de Melo Neto