• Minhas coisas
  • Sobre o pastorador do sítio

Mel no Tacho

~ Mel do Mesmo Tacho

Mel no Tacho

Arquivos da Tag: Nordeste

No xaxado com Lampião

31 segunda-feira out 2011

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

Alzira Marques, cangaço, cordel, cultura, lampião, Nordeste, sertão, xaxado.

Fonte: Folha SP

A octogenária Alzira Marques recorda os bailes animados organizados pelo rei do cangaço

Da Carta Capital

Noite de sábado para domingo, fim de setembro de 1936. Faltava só passar o pó no rosto, espalhar o perfume atrás da orelha e calçar as alpercatas. Cabelos negros e encaracolados na altura da cintura, dentro do seu melhor vestido, a menina de 12 anos, que, se os pais se descuidassem, trocava o estudo pela dança, estava pronta para o seu primeiro baile no alto sertão sergipano com o bando do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Não havia escolha, só mesmo confiar na bênção da tia de criação antes de sair de casa engolindo o medo.

“Eles mandavam apanhar a gente. Vinha aquela ordem e tinha de cumprir. Se não, causava prejuízo depois”, conta Alzira Marques, que completa 86 anos em agosto. Ela lembra detalhes das incontáveis festas cangaceiras a que foi em fazendas que já não existem mais e que deram lugar à planejada Canindé de São Francisco, com o início da construção da hidrelétrica do Xingó, em 1987. Canindé Velho, como a sertaneja chama o local onde nasceu, à beira do Velho Chico, foi demolida por conta da usina, hoje fonte de renda para a cidade – atrai quase 200 mil turistas por ano com o Cânion do Xingó.

O auge de Lampião em Sergipe vai de 1934 a 1938, quando o cangaceiro foi morto ao lado de Maria Bonita e outros nove do bando, em 28 de julho, na Grota do Angico, município de Poço Redondo. “Este é o estado onde ele encontrava mais proteção, aliando-se aos poderosos locais, como o coronel Hercílio Porfírio de Britto, que dominava Canindé como se fosse um feudo”, explica Jairo Luiz Oliveira, da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço. “São os chamados coiteiros (quem dava proteção ao cangaço), políticos de Lampião. Melhor ser seu amigo que inimigo.”

Foi nas terras de Porfírio de Britto que Alzira mais arrastou as sandálias. “Na primeira vez, encontrei Dulce, que foi criada comigo em Canindé Velho e tinha virado mulher do cangaceiro Criança. Eles também eram de muito respeito e nunca buliram com gente minha. Pronto, não tive mais medo”, relembra. Temporada de baile era fim de mês, quando as volantes da Bahia e Pernambuco – as polícias mais algozes no rastro de Lampião – voltavam a seus estados para receber o soldo. “Aí os cangaceiros viam o Sertão mais livre para fazer festa”, diz.

Dia de dança, Alzira tinha de sair e voltar à noite para não levantar a suspeita dos vizinhos. Às 22 horas, punha-se a andar 2 quilômetros até o local onde um coiteiro escondia os cavalos. Outras meninas iam junto. Montavam e seguiam morro acima por uns 15 minutos. “Quando a gente chegava, ia direto dançar o xaxado, forró, o que fosse, até 4 horas da manhã.” Mesmo caminho de volta, chegava com um agrado do rei do cangaço: uma nota de 20 mil réis. “Era tanto do dinheiro, mais de 300 reais na época de hoje. Dava tudo para minha tia.”

Apesar de festeiro, não era sempre que o líder do bando dava o ar da graça. Quando ia, porém, não se fazia de rogado: no mato à luz de candeeiro, onde o arrasta-pé comia solto, brilhantina no cabelo, dançava com as moças do baile sem sair da linha. Média de 20 homens para 15 mulheres. “Ninguém era besta de mexer com a gente. Eles nos respeitavam demais. Lampião era o que mais recomendava: ‘Olha o respeito!’” Maria Bonita – que para Alzira “não era lá essa boniteza, Maria de Pancada era mais bonita” – não tinha ciúme.

O cangaceiro mais conhecido do Brasil gostava de cantar e levava jeito para compor. Quem não se embalou ao som de Olé, mulher rendeira / Olé, mulhé rendá? Ou de Acorda, Maria Bonita / Levanta, vai fazer o café? Alzira conta que era comum ele pedir ao sanfoneiro Né Pereira – outro intimado do povoado – para tocar essas canções, enquanto ele mesmo cantava. “Letra e música dele, além de ser um exímio tocador de sanfona”, confirma Oliveira.

Os bailes eram como banquetes. “Tinha comida e bebida de toda qualidade. Peixe, galinha, porco, carneiro, coalhada, bolo, cachaça limpa”, diz Alzira. Outro ponto que se notava era o aroma: os cangaceiros, que podiam passar até 20 dias sem tomar banho, gostavam de se perfumar. O coronel Audálio Tenório, de Águas Belas (PE), chegou a dar caixas de Fleurs d’Amour, da marca francesa Roger & Gallet, para Lampião. “Era perfume do bom, mas misturado com suor. Subia um cheiro afetado. A gente dançava porque era bom”, afirma a senhora, que se entrosava mais com Santa Cruz e Cruzeiro.
Mais de 70 anos depois, Alzira ainda sonha com aquelas noites e sente falta da convivência com os amigos: muitas festas aconteciam em Feliz Deserto, fazenda que Manuel Marques, seu então futuro sogro, tomava conta. Não raro, o brilho da prata e do ouro das correntes, pulseiras e anéis dos cangaceiros visitam sua memória, assim como a imagem de Lampião lendo a Bíblia num canto da festa. “Ele era muito religioso.” No seu pé de ouvido fica o xa-xa-xá das sandálias contra o chão, som que deu nome ao xaxado, segundo Câmara Cascudo, ritmo tipicamente cangaceiro que não se dança em par.

Testemunha de um período importante da história do País, conta que nunca teve vontade de entrar para o cangaço nem considerava Lampião bandido: “Não era ladrão, ele pedia e pagava, fosse por uma criação, por um almoço. Agora, se bulissem com ele, matava mesmo”. Na cidade é conhecida como a Rainha do Xaxado. No último São João, que antecipou as comemorações do centenário de nascimento de Maria Bonita (8/3/1911), foi uma das homenageadas.

Balançando-se na rede na entrada de sua casa, satisfeita com os dez filhos, 40 netos e 37 bisnetos, Alzira aponta para um dos locais onde dançou com Lampião: uns 100 metros adiante, a Rádio Xingó FM. “Continua lugar de música.” Mas e Lampião, dançava bem? “Ah, ele dançava bom.”•

 

Tânia Bacelar recebe Troféu Tejucupapo – Mulher Nordeste VinteUM

10 sexta-feira jun 2011

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ 4 Comentários

Tags

cultura, economista, Nordeste, pernambuco, Tania Bacelar, Tejucupapo

A socióloga e economista Tânia Bacelar será agraciada com o Troféu Tejucupapo – Mulher Nordeste VinteUM.   A entrega do prêmio acontece no dia 06 de junho, às 19h, no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.

O troféu, segundo o diretor-presidente da revista Francisco Bezerra, é um reconhecimento em vida às histórias e conquistas das guerreiras nordestinas. “Consideramos sua dedicação ao Nordeste estudando planejamentos estratégicos para o desenvolvimento dessa região. Além disso, a história das Heroínas de Tejucupapo se confunde com a história de Tânia”, enfatizou.

Antes da entrega do prêmio, houve um recital em alusão a batalha das Heroínas. A interpretação foi da atriz Luciana Lyra, que transformou em sua dissertação de doutorado a história das mulheres do vilarejo de Tejucupapo, em Goiana. O ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, declarou que Tânia “ofereceu sua contribuição à minha gestão quando secretário de Pernambuco. Suas orientações foram úteis na formulação de políticas públicas para colocar o Estado na posição que está. Como ministro, estamos nos valendo do talento de Tânia para construir propostas de gestão”, afirmou.

Segundo Tânia Bacelar, a origem do prêmio é para quem se destacou no Nordeste e “essa região sempre foi meu objeto de estudo e trabalho, principalmente, durante os 20 anos que passei Sudene, entre 1966 a 2006. Me sinto honrada com o reconhecimento do meu trabalho”, contou.

Leia a seguir o discurso de Tânia:

Minhas palavras iniciais são de agradecimento

Introdução

Como o critério deve ter sido o trabalho que venho realizando ao longo de minha vida profissional, vou aproveitar a oportunidade para usar este tempo que me é dado, para falar de meu principal objeto de estudo e de trabalho: o Nordeste brasileiro.

As mudanças no Nordeste

Olhando o Nordeste que conheci ao entrar na SUDENE no final dos anos 60 não dá para negar que mudanças importantes se verificaram.

O avanço da indústria e do terciário moderno nas grandes cidades – que também cresceram e se modernizaram, ao mesmo tempo em que reproduziram o padrão de miséria que marca todas as periferias urbanas do país -, é visível a olho nu.

O surgimento de novas e modernas bases agrícolas, nos vales de nossos principais rios ou na porção nordestina do cerrado brasileiro criou novas frentes de expansão econômica que atraíram muita gente daqui e de fora. Os gaúchos que o digam.

Outra mudança importantíssima foi o desmonte da velha estrutura montada no semi-árido, com o fim do algodão. E a busca de novos rumos para este imenso território, agora tendo em mente a “convivência com a realidade da caatinga”, mesmo estando ela ameaçada pelo avanço da desertificação em tempos de aquecimento global… Desmonte que fragilizou as bases políticas dos herdeiros dos velhos coronéis…

Igualmente relevante foi a redução do peso econômico (e político) de outro velho complexo: o sucro – alcooleiro, que perdeu importância na economia da região e que assistiu a seu deslocamento para as terras do Sudeste e Centro –Oeste, hoje lideres nacionais na produção do etanol.

O Nordeste promoveu também o desenvolvimento de numerosas bases econômicas locais, algumas delas articuladas no mercado nacional e até mundial, fruto da capacidade empreendedora de nossa gente. Gente que não se entrega, mesmo vivendo em um contexto nada favorável, nem se deixa abater pela leitura preconceituosa dos que pensam que aqui só existe miséria e submissão aos poderosos.

O fim da seca como drama social é outra mudança que veio com o avanço das políticas sociais no Brasil redemocratizado.

A Constituinte, em 1988, estendeu a Previdência ao meio rural e cobriu os velhos com o manto protetor do Estado. E o programa Bolsa Família alargou o cobertor, apesar das criticas dos conservadores.

No inicio do século XXI, com o país retomando seu crescimento puxado pela dinâmica do consumo popular, o Nordeste, junto com o Norte, foi positivamente afetado. Lidera as vendas no comercio varejista desde 2003…

E o consumo dinâmico atraiu o investimento: que o digam o BNDES e o BNB…

Assim, o NE viu o emprego formal crescer a taxas superiores às do Sudeste e Sul ( 6,3% contra 5% , entre 2002 e 2010, segundo a RAIS) e o rendimento familiar real da sua PEA crescer acima da media nacional ( 6,2% versus 4,5%, segundo a PNAD).

Viu a Petrobras trazer 3 das suas novas refinarias para a região e usar seu poder de compra para levar estaleiros a PE, MA, BA e AL.

Viu as Universidades se interiorizarem, mudando a fisionomia de varias cidades media da região, e abrigarem alguns Institutos Nacionais de Pesquisa em áreas de ponta do conhecimento: como o de Neurociências ( na UFRN) e Fármacos ( na UFPE).

Viu sua infra- estrutura econômica melhorar, como novos modernos portos e aeroportos, com a duplicação de rodovias estratégicas como a BR 101, ou com a construção da ferrovia Transnordestina ( velho sonho, que ainda está incompleto, pois precisa passar de Eliseu Martins para chegar na Norte-Sul).

Mas há muitas resistências a superar e obstáculos a vencer

A velha estrutura fundiária é a maior peça de resistência. Quase um tabu. Os avanços são marginais, apesar da luta dos movimentos sociais. E a melhoria da vida de muitos nordestinos esbarra aí.

O ensino fundamental de qualidade é outro velho obstáculo a um verdadeiro avanço social: se expande quantitativamente, mas o IDEB coloca a região em lugar vergonhoso. Principalmente para as necessidades do século XXI.

Mas há novos desafios a enfrentar

O pré- sal é um dos novos desafios. O setor de petróleo e gás já lidera o investimento na indústria do país e vai ampliar seu peso na dinâmica da economia nacional nas próximas décadas. E deve estimular uma interessante cadeia de fornecedores. O problema é que 2/3 dos atuais produtores desta rede de fornecimento está no Sudeste. O pré sal pode atuar como um vetor de reconcentração industrial nas áreas mais ricas do país. Estudo do CEDEPLAR/UFMG sobre os impactos regionais do PAC 2 ( que já inclui os resultados iniciais da exploração do pré-sal) já sinaliza nesta direção. Pernambuco percebeu tal ameaça e tenta estruturar o SUAPE GLOBAL como forma de se credenciar como pólo nacional de fornecimento de equipamentos e serviços a indústria do petróleo e gás. Mas o esforço necessário é muito maior! Aqui e em outros Estados do NE.

Outro desafio, ainda na área de energia, é o de fazer avançar na região a produção de energias renováveis , como a eólica , a solar, a biomassa, etc. Há esforços nesse sentido e avanços iniciais, mas o desafio é muito maior.

A integração sulamericana também fustiga o Nordeste. O Brasil já decidiu ampliar sua integração com os vizinhos da America do Sul e o projeto IIRSA é a concretização de investimentos que visam ampliar a integração física da região, via investimentos estratégicos em infra-estrutura de logística. O Nordeste está fora da IIRSA, cujo mapa atual de investimentos não inclui nada em nossa região.

Estes são alguns dos novos desafios.

Mas há um antigo: vencer o hiato entre o padrão de vida da maioria dos nordestinos e a da grande parte dos demais brasileiros. Aqui ainda estão 60% dos mais pobres do país, destacou o recém lançado Programa de Erradicação da Miséria.

De que serviram tantos avanços, se a vida concreta de tantos nordestinos ainda é tão precária? Se as oportunidades não lhe chegam?

Ainda há muito a fazer! E espero que prêmios como este estimulem as pessoas a lutar por um Nordeste melhor. Por isso dedico o que ora recebo aos que não se acomodam com algumas melhorias, não se contentam com migalhas (como faziam nossos velhos oligarcas… Continuam querendo mais avanços… Muito mais!

Obrigada!

DO BLOG DO PAULO HENRIQUE AMORIM

Açúcar do Brasil em Portugal.

18 segunda-feira abr 2011

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ 1 comentário

Tags

açucar, Alimentação, assucar, biblioteca, bolos, cutura, doces, engenho, Gilberto Freyre, livro, Nordeste

 Do Terra Magazine

 Portugal vai, aos poucos, redescobrindo o Brasil. Futebol, novelas de televisão, cantos, danças, crenças populares e, mais recentemente, também nossos pensadores. Semana passada a Universidade Lusófona, em Lisboa, promoveu seminário (“colóquio”, como eles chamam) para apresentar, a estudantes e pesquisadores portugueses de ciências sociais, o pensamento de Gilberto Freyre, com o tema “Identidades, hibridismos e tropicalismos: leituras pós-coloniais de Gilberto Freyre”. Cada participante apresentou ao público, um dos livros do mestre – Casa-grande e senzala, Nordeste, Ordem e progresso, Sociologia: introdução ao estudo dos seus princípios, Como e porque sou e não sou sociólogo, Sociologia da medicina, Ingleses no Brasil, Alhos e bugalhos:ensaios sobre temas contraditórios, Arte, ciência e trópico, Modos de homem e modas de mulher, textos sobre futebol, O mundo que o português criou, uma cultura ameaçada: a luso brasileira, Aventura e rotina, Uma cultura moderna: a luso tropical, Um brasileiro em terras portuguesas, O luso e o trópico. E também  Açúcar – que coube a mim, com muita honra, apresentar.

Só para lembrar esse açúcar foi o mais importante de todos os elementos trazidos ao Brasil pelo português, influenciando nossa economia e nossa formação social. Moldou também nosso jeito de ser e nossa alma. “Sem açúcar não se compreende o homem do Nordeste”, reconheceu desde cedo Gilberto Freyre. Ao sol ardente de campos cheios de cana e nos engenhos primitivos (ainda movidos por animais), logo seriamos o maior produtor de açúcar do mundo. Enquanto isso nas casas-grandes, em um ambiente de cheiros fortes e fumaças muitas, ia nascendo aos poucos a doçaria pernambucana – “debaixo dos cajueiros, à sombra dos coqueiros, com o canavial sempre do lado a fornecer açúcar em abundância”. Com sabores, temperos, superstições e hábitos das três raças que nos formaram. Tudo na medida certa. E tudo com aquele equilíbrio “que Nabuco sentia no próprio ar de Pernambuco”. Convivência espontânea entre o cristal de açúcar, o sabor selvagem da fruta tropical, e aquele que era o alimento básico de nossos índios – a “manióka” (mandioca). Juntando pilão, urupema, saudade, peneira de taquara, raspador de coco, esperança, colher de pau, panela de barro, mais “a fartura de porcelana do oriente e bules e vasos de prata”.

Em “Açúcar” Gilberto Freyre catalogou, cuidadosamente, compotas e sorvetes que foram nascendo com o gosto forte de nossas frutas. A epifania gloriosa de doces e bolos com sabor de pecado – beijos, suspiros, ciúmes, baba-de-moça, arrufos-de-sinhá, bolo dos namorados, colchão de noiva, engorda-marido, fatias-de-parida – que o povo logo chamou de “fatias paridas”. Criados por freiras – manjar-do-céu, bolo divino, papos-de-anjo. Para lembrar fatos históricos – Treze de Maio, Cabano, Legalista, Republicano. Com nome das famílias que os criaram – Cavalcanti, Souza Leão. Dos engenhos onde nasceram – Noruega, Guararapes, São Bartolomeu. E nome de gente, também – Dona Dondon, Dr. Constâncio, Dr. Gerôncio, Luiz Felipe, Tia Sinhá. Mais os sabores das festas – Carnaval, Semana Santa, São João, Natal. Tantos mais. “Com as comidas indígenas e negras iam circulando as amostras da doçaria portuguesa” (Câmara Cascudo – “A Cozinha Africana no Brasil”). Inclusive doces de rua, de tabuleiro, bombons, confeitos. Mais tudo que estava à volta, como o papel recortado usado na decoração desses bolos e doces. Sem esquecer os usos especiais daquele açúcar, inclusive na preparação de remédio, em xaropes e chás: de flor de melancia (para dor nos rins), de mastruço (gripe), de capim santo (fígado), de cidreira (tosse), de casca de catuaba (impotência). Tudo reunido com critério e paixão.

“Açúcar” chega, enfim, a Portugal. Na hora certa. Cumprindo por justiça reconhecer que escrever o livro naquele tempo foi, como ele mesmo reconheceu, um “ato de coragem”. Escandalizou conservadores, ao recolher receitas que vieram de famílias e engenhos da região. Espantou a “academia”, ao se ocupar de tema considerado então menor. Enfrentou previsíveis comentários, de maldade ou inveja. Mas não se incomodava com as críticas. Porque havia, nele, a clara antevisão dos predestinados. Porque sentia ser preciso contar esse pedaço de nossa história. Porque pressentia a importância que teria “Açúcar”, no futuro que viria. E é graças à ousadia, à persistência, e ao gênio de Gilberto Freyre que hoje podemos compreender melhor, em sua grandeza, a alma generosa de um povo. O povo nordestino.

RECEITA: PAPOS-DE-ANJO EM CALDA DE ANIS

INGREDIENTES:

6 gemas 
1 ovo inteiro
350 g de açúcar
400 ml de água
2 estrelas de anis (para quem gosta)

PREPARO:

* Faça uma calda rala com a água, o açúcar e o anis estrelado (se quiser). Reserve. 
* Em uma batedeira bata bem as gemas e o ovo inteiro, por trinta minutos. Coloque esse creme de gemas em pequenas formas untadas, e depois em tabuleiro com água para que os papos de anjo assem em banho-maria. Desenforme e deixe esfriar.
 
* Coloque os papos de anjo em compoteira e sobre eles, ponha a calda.

 Lecticia Cavalcanti coordena o caderno Sabores da Folha de Pernambuco, escreve na Revista Continente Multicultural e no site pe.360graus.

Marina de La Riva: fusão de Cuba e Nordeste do Brasil

18 sexta-feira mar 2011

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

Brasil, BraXote das meninas, Chano Pozo, Chico Buarque, Cuba, Davi Morais, Gil Fuller, La Caminadora, Luis Gonzaga, Marina de La Riva, Nordeste, Tin tin deo, Zé Dantas

O nome dessa cantora é Marina de La Riva; filha de mãe brasileira e pai cubano. Essa mistura dá um caldo bom demais da conta. Descobri a menina por acaso, num domingo desses dando uma olhada na Tv. As músicas cantadas por Marina é uma colagem, fusão das cidades do Rio e Havana como base para um imaginário criativo das lembranças da moça.

Descobri que o cd foi gravado em 2004 e tem participações de Davi Moraes e Chico Buarque. Tem preciosidades como: Xote das Meninas de Luiz Gonzaga e Zé Dantas (de 1953) e Tin Tin deo, dos cubanos Gil Fuller e Chano Pozo (Esses dois caras introduziram os ritmos latinos no Jazz). Isso aí é só um resumo do álbum da moça que tá bom demais. Dêem uma espiada sem compromisso no vídeo abaixo. Só mais uma coisinha: o último vídeo Chico Buarque, junto com ela e artistas cubanos, em Havana. A canção é “La caminadora”

Tania Bacelar: há uma imagem deformada do Nordeste

07 domingo nov 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

Bolsa Família, Crescimento Economico, dem, Diario de Pernambuco, dilma, Imagem, Investimentos no NE, Lula, Mayara Petruso, Nordeste, Oportunidades, política, preconceito, psdb, serra, Sudeste, Sul, Tania Bacelar, twiter, xenofobia

Entrevista no Diário de Pernambuco

A professora Tânia Bacelar nem imaginava. Mas, ao escrever o artigo ´O voto do Nordeste: para além do preconceito`, publicado na revista Nordeste e reproduzido por uma infinidade de blogs Brasil afora, antecipou uma resposta – e que resposta – à velha tese que motivou uma nova onda de ataques aos nascidos na área compreendida entre o Maranhão e a Bahia. O texto rebate com fatos e análises o conceito preconcebido de que os nordestinos são um peso para o país e que Dilma Rousseff (PT) só foi eleita presidente porque os eleitores da região votaram em troca do Bolsa Família. Nesta entrevista, Bacelar, doutora em economia e docente do departamento de Geografia da UFPE, aprofunda sua avaliação sobre os números das eleições no Nordeste. Diz que nos últimos oito anos, a região passou a receber investimentos em áreas estratégicas e que o resultado dessa ´atenção`, é crescimento, movimentação da economia, emprego, oportunidades.

O seu artigo responde à manifestação que ocupou o Twitter na semana passada sugerindo morte aos nordestinos por conta da vitória de Dilma. Como a senhora avalia essa situação?

Acho que esse debate reflete que existe um preconceito realmente e que há uma imagem deformada do Nordeste, principalmente no Sudeste e no Sul. Uma imagem de que o Nordeste é uma região de miséria, que é uma carga, como se não tivesse potencialidades. Isso reflete, primeiro, o desconhecimento da história do país. O Nordeste é o lastro econômico, cultural e político do Brasil. Mas num determinado momento dessa história, os investimentos e a dinâmica se concentraram no Sudeste e o Nordeste perdeu o trem da industrialização lá no século 20.

Audio da entrevista, completo

O Movimento SP só Para Paulistas: querem vitimizar Nordeste

04 quinta-feira nov 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ 7 Comentários

Tags

Bolsa Família, cultura, dem, dilma, Mayara, Mineiros, Movimento São Paulo para Paulistas, NE, Nordeste, Nordestino, paulistas, política, preconceito, psdb, pt, serra, SP, Sudeste, Tributos, xenofobia

Por Ana Cláudia Barros (site Terra Magazine)

A atendente de suporte técnico Fabiana Pereira, 35 anos, uma das articuladoras do Movimento São Paulo para os Paulistas, sai em defesa da estudante de direito Mayara Petrusco, apontada como uma das responsáveis por desencadear a onda de manifestações preconceituosas contra os nordestinos na internet após a vitória de Dilma Rousseff (PT).

Na internet, Mayara declarou que “nordestino não é gente, faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado”, o que rendeu à universitária uma denúncia junto ao Ministério Público Federal, apresentada pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Pernambuco (OAB-PE). A entidade viu no ato a configuração dos crimes de racismo e de incitação pública à pratica delituosa, no caso, homicídio.

Para Fabiana, a estudante não se referiu a um assassinato literal e apenas estava “desabafando”.

– Acho também que não estão sendo debatidas quais as causas da revolta dela. O fato de – não que justifique-, mas o fato de São Paulo sustentar o Bolsa Família, e aí esses beneficiários emergem e São Paulo fica subjugado a um governo que não elegeu, né?! – “advoga”.

Na interpretação da representante do movimento – cujo abaixo-assinado virtual já conta com quase 1400 assinaturas -, o episódio foi usado para vitimizar o “pessoal do Nordeste”. Segundo ela, a solução para acabar com a “guerra” seria “que cada Estado tivesse autonomia para administrar os seus recursos”.

– Aí, ia parar essa guerra que existe. São Paulo sustenta e eles (nordestinos) decidem quem vai nos governar.

Ao ser lembrada que mesmo se fossem excluídos votos do Norte e do Nordeste Dilma venceria, Fabiana argumenta:

– O Brasil, na verdade, parece que é dividido em duas culturas. Minas é mais identificada com o Nordeste, não sei se é por motivos de colonização. Não sei quais as causas. Se você olhar aquele mapa que dá meio vermelho, meio azul do (José) Serra e da Dilma, é sempre assim. Parece que um se identifica mais com uma ideologia e outro, com outra ideologia. Então, mesmo que tirasse o Nordeste, talvez ela se elegesse da mesma forma. Mas o pessoal não deixa de culpar… Culpar entre aspas, né?! Sabe que lá (Nordeste) é um celeiro mesmo, que vota no assistencialismo, no populismo.

Confira a entrevista.

Zé Ramalho, o Bob Dylan do sertão…

02 terça-feira nov 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ 3 Comentários

Tags

bob Dylan, cultura, forró, Jackson do Pandeiro, música, Nordeste, sertão, Zé Limeira, zé ramalho

 

 

 

 

Zé Ramalho é o Bob Dylan do Sertão. Claro, Dylan tem uma cadencia própria muito parecida com a de João Gilberto… Brinca com a métrica. Já Zé Ramalho, tem voz cavernosa, grave, fala-cantada; ele minimiza a melodia para incorporar entonações da fala. É um pregador, um pastor, um padre… de voz empostada. Fala como se falasse de cima de um coreto e com entonações que têm sua própria musicalidade.

Quando eu morava na residência universitária, tinha várias amigos que adoravam o Zé… Certa vez, numa daquelas longas conversas de mesa de bar, a prosa deu no Zé. Elogios prá lá, criticas  prá cá, etc. Críticas  às letras, dizendo que não compreendiam, etc. De repente, Genival, um piauiense, de Floriano, acadêmico de medicina, falou: “menino, eu também não entendo, não! mas o ‘homi’ canta com uma certeza tão grande que deve dizer alguma coisa!”.

Na verdade, tanto Bob Dylan como Zé Ramalho são proféticos em suas composições, em parte pelo teor messiânico e tom de voz que empregam.  São vozes que têm algo da certeza inabalável e alucinatória dos profetas, como bem dizia meu amigo, Genival. Ou seja, a certeza de quem viu algo e pouco lhe importa se os outros conseguem ver o mesmo ou não.

O Zé vem do sertão paraibano, de brejo do cruz. Ele foi parido aos sons dos desafios de viola; cresceu ouvindo aboios, repentes e vendo pegas de boi. Sua poética é, portanto, oral. Tem ritmos, inflexões, geniais. Quando nasceu enfiaram uma viola goela abaixo juntamente com versos tirados dos cordéis e das cantorias ouvidas numa sala de reboco.

Para entender Zé Ramalho temos que ter leitura e essa leitura é àquela que é cantada no microfone, coberto por uma flanela amarela, das feiras livres como quando se faz o merchandising do cordel. É preciso ter presente a oralidade, do contrário, não se entende nada mesmo.

Nordeste e as eleições para presidente

02 terça-feira nov 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

Bolsa Família, Dilma Rousseff, Eleições 2010, Eleições e Nordeste, Nordeste, partido político, presidenta, pt, resultado eleitoral, serra, Sudeste, Tânia Barcelar, vitória

O resultado da eleição de 2010 mostrou que Dilma Rousseff venceria as eleições sem a votação da região Nordeste e Norte. Os nordestinos apenas ampliaram a vantagem da nova presidenta do Brasil. Se a agente considera apenas, o Sul, Sudeste e Centro-Oeste, ela totalizou 1.873.507 votos a mais que José Serra.

 A região Sudeste, que é tida como território esclarecido, deu à Dilma Rousseff 1.630.614 votos de maioria. Esse número supera em mais de 839 mil votos o total das vantagens do Serra na região Sul, 656.485, e no CO, 134.434.

 Na verdade, apesar da maioria de serra, em SP, 1.846.036 votos sobre Dilma, ele perdeu em Minas (-1.797.831), e  Rio de Janeiro (-1.710.186)

******

Por Tânia Barcelar

A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus direitos. Não “soubesse” votar.

 Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o “Bolsa Família” serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de preconceito. E como a maior parte da população pobre do país está no Nordeste, no Norte e nas periferias das grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga 25% das famílias atendidas pelo “Bolsa Família”), os “grotões”- como nos tratam tais analistas ? teriam avermelhado. Mas os beneficiários destes Programas no Nordeste não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra). Ler Artigo completo

As bonequeiras do Crato, inspiração para livro lançado pela ed. Unicamp

24 domingo out 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

arte, Boneca, Boneca de Pano, Bonequeiras do Crato, Brincadeiras, controle social, cultura, Diario do Nordeste, Luis Gonzaga, Meninas, Meninos, Nordeste, socialiação, Xote Das Meninas

 Quando criança brincava de “tica”, esconde-esconde, de roda, carro feito de lata de óleo, de madeira, de fazendeiro com gado feito de ossos de boi. Já as meninas brincavam com bonecas de pano confeccionadas com carinho por mulheres da região. Nossos brinquedos eram feitos nos arredores por outras crianças, adultos ou por nós mesmo. Sempre há àqueles mais criativos, danados, curiosos; basta ver, botar o olho na coisa e o menino faz do mesmo jeito. Nunca tive habilidade prá essas coisas, tentava fazer mais não ficava bom! meu pai comprava meus carros de lata. Tempos bons! Criançada é prá brincar, correr, cair… se atirar em tudo. Faz parte do jogo da vida.  E os jogos e brincadeiras da criançada fazem farte das primeiras ações de socialização do indivíduo… Servem para a definição dos papeis de cada um, gênero… é uma espécie de controle social.

 

fonte: Diario do Nordeste

  Pois bem, ainda tenho bem claro na mente os movimentos dos dedos grossos e calosos, de levar furada de agulhas, daquelas mulheres criando a boneca tão sonhada das meninas. Agora, muitas dessas meninas, moçinha, já estavam naquela fase da vida que Luis Gonzaga cantou, em o xote das meninas: “toda menina que enjoa da boneca / É o siná que o amor já chegou no coração…” E esse era o sinal mesmo… Quando as bonecas começavam a ficar encostadas era porque elas já estavam “suspirando e sonhando acordada”. Não tinha médico que diagnosticasse a mudança… “(…) o pai leva ao dotô / A filha adoentada/ Não come, não estuda, não dorme, não quer nada/ Ela só quer / Só pensa em namorar / Mas o dotô nem examina / Chamando o pai do lado/  Lhe diz logo em surdina/ Que o mal é da idade/ Que prá tal menina / Não tem um só remédio/ Em toda medicina…”

 Fiz esse floreio todo porque queria contar da reportagem que acabo de ver das bonequeiras do Crato, no Diário do Nordeste

Do Diário do Nordeste

Crato – Bonequeiras deste Município, um grupo de mulheres, que transformou a sombra de uma mangueira em um “atelier terapêutico” para fabricação de bonecas de panos, foram inspiração para um livro lançado na última semana, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP), durante uma exposição do artista multimídia Avelino Bezerra, que faz uma retrospectiva de seus 30 anos na Universidade.

O livro “Tramas e Dramas do Boneco de Pano no Tatadrama”, de Elisete Leite Garcia e Maria Ivette Carboni Malucelli (Ed. Livre Expressão, 196 páginas), está ancorado em um dos pensamentos de Platão: “Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa”. O primeiro capítulo do livro é dedicado ao Cariri que, segundo Elisete, foi a fonte de inspiração do seu trabalho. Mais detalhes

Foto: Antônio Vicelmo

 

Jessier Quirino e Marilyn Monroe

16 sábado out 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

arte, cordel, cultura, jessier quirino, Marilyn Monroe, Nordeste, O Berro, poema, Poesia Matuta, repente, Zé da Luz

 

 

 

 

 

 

 

Jessier Quirino é um poeta matuto dos bons. A poesia dele não tem um tutano grande como tinha a do poeta Zé da Luz, mas ele incorporou o que a poesia matuta anterior tinha e foi abrindo veredas, criando caminhos e personificando seu jeito de falar as coisas, e isso tudo forma um cascabulho maravilhoso.

Espia só essa preciosidade:

Deu um vento na Serra do Araripe
Que entronxou uma igreja no Japão     
E, por falta de padre e de beato,
Vei de lá com a molesta feito o cão:

Derrubou as muralhas lá da China
Levantou um poeirão em Bagdá
Se enfiou num esgoto no Catar
Foi sair no quintal da longitude
Estourou um bueiro em Roliúde
Que até hoje tá dando o que falar:
Foi uma moça querendo se esquivar
De mostrar a caçola e os possuído:
Marilyn Monroe agarrada com o vestido
E o vestido danado a se enfunar.

Uma pessoa que faz poesia assim, seja ele um matuto ou um cara da cidade, arquiteto de formação, assim como Jessier Quirino, usa temas, coisas que fazem parte de sua vida, tudo com que ele tem contato e que dá um estalo lhe sugerindo uma constelação de palavras carregadas de sonoridade e de significados; isso é “meio caminho andando” para construção de um poema. Mas, venha cá! um poeta matuto pode escrever sobre Marilyn Monroe? Que eu saiba essa artista americana não pertence ao seu mundo! Ei, não carece, não!! um poeta que nem Jessier Quirino, indiferente a essas questões, fala sobre coisas que vê e os lugares onde vai, e isso é uma característica dos cordelistas e dos repentistas, para os quais tudo é possível, até o absurdo.

A poesia dele tem similitude, quero ver você ler e rapidamente não passar um “filminho” em sua cabeça transformado em paralelo abstrato, por exemplo: “mais descansado do que caranguejo almoçando” // “tranquilo que só jumento em sombra de igreja”// “devagar que só enterro de viúva rica”.

E ainda tem a similitude não-auto-explicativa. Que é isso, homem? É aquela frase que elimina o adjetivo ou advérbio inicial e recorre apenas à imagem, e aí eu faço minha própria comparação. Por exemplo: “saiu que nem uma vaca acuada de cachorro”.  Eu imagino que seja a imagem de uma pessoa grandona perseguida por uma baixinha, e que sai tombando, meio cambaleando, sabendo que não pode fugir mas fugindo.

Pois bem, Jessier Quirino é o cara! Lá no final do livro tem uma seção chamada “Gaveta de Bugiganga” que tem umas definições arretadas como “Cauby Peixoto é um dos maiores Frank Sinatras do Brasil”, sugestões patriotas (“Retirar as poltronas giratórias do parlamento e trocar por tamboretes. Vá lá que o cabra não faça nada, mas ficar encostado e rodando já é demais!”) e fascinantes relatos como a “História do padre tatuado na virilha que esqueceu o celular no motel e engoliu a lente de contato misturado com um Engov”.

Paraiba Meu Amor…

12 terça-feira out 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

3 do Nordeste, Aleijadinho de Pombal, Bernand Robert Charrue, Chico César, cultura, documentário, Dominguinhos, forró, música, Nordeste, Os Tres do Nordeste, Paraiba Meu Amor, Pinto do Acordeon, Richard Galliano, sanfona, Trio Tamanduá, xote

“Paraíba, meu amor” é um documentário de 80 minutos, produzido pelo diretor suíço Bernand Robert-Charrue para o público europeu. O filme alterna entrevistas e trechos musicais, e foi gravado nas festas do interior paraibano. Filmado quase todo na Paraíba, um dos pontos altos do filme é o encontro, de Dominguinhos e do acordeonista francês Richard Galliano. Participam também do filme o Aleijadinho de Pombal, o Trio Tamanduá, Pinto do Acordeon e Os 3 do Nordeste. (Ver Crítica)

 

O fim e o Princípio, filme de Eduardo Coutinho – Uma memória do Sertão

01 sexta-feira out 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

asa branca, cinema, cultura, documentário, Dominguinhos, Eduardo Coutinho, Estrada de Canidé, Luis Gonzaga, Nordeste, O fim e o princípio, pau de arara, sertão, Zé Dantas

O documentário “O fim e o princípio” do Eduardo Coutinho me tocou demais. Já assisti umas poucas de vezes. É um filme espetacular. Foi feito no sertão paraibano, num município que fica dentro do polígono da seca, depois de Campina Grande como quem vai de J. Pessoa para Juazeiro do Padim Ciço, pertinho de Cajazeiras

Pois bem, Coutinho se embrenhou pelo sertão afora, e foi bater no município de Rio do Peixe para enxergar um outro lado, o lado dos  viventes da região, como bem diria Luis Gonzaga, “(…) Esse sertão sofredor / Sertão das ‘mulher séria/ Dos homens trabalhador”. Foi espiar os queixumes e as reminiscências…  Saiu sem roteiro, sem plano. O filme foi parido dessa doidice, e nos mostra o poder do cinema de pegar a vidinha simples de gente que “não é ninguém” numa “cidadezinha” do interior. Gente que não é famosa, não tem os traços da beleza da rosa, não é rica… mas que passaram a vida pelejando pela sobrevivência.

Quem guia seu Coutinho pelos arredores da cidade é Rosa; uma moça que mora numa localidade rural, professora, e que é voluntária da pastoral da criança. Bem comunicativa, falante…  Foi ela que planejou as visitas e abriu todas as conversas entre o cineasta e a comunidade.

A história é narrada por gente velha, que conseguiu viver 70, 90 anos. Rostos com traços marcados pelos aperreios da vida, vozes roucas, pigarreado, peito encatarrado… Vidas cheias de privações… mas que se abarrotaram de trabalho. Vida pobre, mas não de miséria. Nos quatro cantos das salas vemos cadeiras, móveis simples, quadros de Stª Luzia, Nossa Senhora, arreios de animais atrepados nas paredes… E a rainha da casa, a televisão.

Seu Coutinho fica cara a cara com cada um. Olhos arregalados, serenos… de quem pagou tintim por tintim da conta ao mundo. Uma diz que está sem dormir… passa a noite no escuro, sentada na rede, tomando café e fumando. Outra já diz que o maior prazer é assistir uma novelinha, e depois deitar, e dar cochilos no chão. Tem um senhor, que pela idade, não consegue enxergar direito, mas mostra um troféu que ganhou num concurso de poesia e recita o soneto. Já outro senhor, daqueles que tem uma letrinha… estudou, semi-letrado, ler e mostra os ensinamentos da Bíblia. Também, tem aquele mais arremediado… que tira o sustento porque descobre e vende água no sertão… Fala com entusiasmo. Já outro tem olhos espertos, bem vivos… que ficam sério, riem… e que fica o tempo todo na peleja com o “doutor” acerca da filosofia da vida… se esquivando das ciladas armadas pelo “doutor” na prosa, prestando bem atenção nas palavras do “doutor” para não ser pego de surpresa.

Viver ali já é uma provação grande. O pior já passou. São sobreviventes de uma peleja. Isso me faz lembrar Guimarães Rosa: “viver é muito arriscoso e o que a gente quer dela é coragem!” Encaram a morte com naturalidade, não falam nem de “a” nem de ‘b”, nem de Governos… O Prazer maior do sertanejo é oferecer um cafezinho, almoço, repartir o pouco que tem de comida… e prosear sobre a vida. A hospitalidade é uma virtude desse povo.

O elogio desse chão sertanejo tem duas pulsões conflitantes, uma que se ressente do que ficou prá trás, das perdas… outra que busca às promessas da esperança, do ganho. Isso está fincado no imaginário do sertanejo. Basta ver o xote de Zé Dantas e Luis Gonzaga: “La no meu pé de serra/ Deixei ficar meu coração/ Ai que saudade eu tenho/ Eu vou voltar pro meu sertão”. No baião de Luis: “Só deixo o meu Cariri/ No último pau-de-arara”. Ou ainda a louvação da perseverança em atingir a meta: “Quando eu vim do sertão/ Seu moço, do meu Bodocó/… Só trazia a coragem e a cara/ Viajando num pau-de-arara/ Eu penei… mas aqui cheguei”. E ainda no hino nacional dos retirantes, Asa branca (1947): “Hoje longe muitas léguas/ Nesta triste solidão/ Espero a chuva cair de novo/ Pra mim voltar pro meu sertão”. Dominguinhos também cantou os anseios retrospectivos: “Por ser de lá/ do sertão (…) Eu quase não falo/ Eu quase não tenho amigos/ Eu quase que não consigo/ Viver na cidade sem viver contrariado”.

O sertão é assim: “(…) Sertão das ‘mulher’ séria / Dos homens trabalhador”. E foi isso que o Eduardo Coutinho, em “O fim e o princípio”, quis mostrar prá gente. Quis mostrar a granel, “ (…)  Coisas que prá mode ver / O cristão tem que andar a pé”.

A Cantoria e o Blues

01 sexta-feira out 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ 1 comentário

Tags

blues, cantoria, cultura, Ivanildo Villa Nova, Kind hearted Woman, música, Nordeste, poesia, poeta, repente, Robert Johnson, Teo Azevedo, viola

O universo do blues e o da cantoria nordestina têm vasos comunicantes por onde deságua a poesia nos versos básicos…. Além, claro, do parentesco histórico e social.  Na nossa cantoria a estrofe principal é a sextilha, e no blues tradicional, norte-americano, a estrutura é composta de doze compassos.

A nossa sextilha tem influencia Ibérica. Aliás, tudo ou quase tudo dessas bandas de cá, faz parte da cultura popular nordestina. Na verdade, a nossa sextilha é sertaneja mesma, nasceu no cariri, na caatinga, no pajeú das flores, nos leitos dos rios… Enfim, nasceu em uma região onde a presença negra é muito pouca.

Mas para não ficar nesse trololó, os vídeos abaixo mostram: Robert Johnson cantando Kind-hearted Woman; em seguida,  um blues matuto cantado pelo mineiro Téo Azevedo, chamada de “Balada de Robert Johnson”. A canção é sobre a vida do cantor norte-americando, Robert Johnson, criado em um mundo que lembra o Brasil. O cantador era negro, neto de escravos, apanhador de algodão, e nunca foi à escola. E o último, uma sextilha desfiada por Ivanildo Villa Nova

***********

 Robert Leroy Johnson (8 de Maio, 1911 – 16 de Agosto, 1938) foi um cantor, guitarrista Norte-americano de Blues. Johnson é um dos músicos mais influentes do Mississippi Delta Blues e é uma importante referência para a padronização do consagrado formato de 12 compassos para o Blues. Influenciou grandes artistas durante anos como Muddy Waters, Led Zeppelin, Bob Dylan, The Rolling Stones, Johnny Winter, Jeff Beck, e Eric Clapton, que considerava Johnson “o mais importante cantor de blues que já viveu”. Por suas inovações, músicas e habilidade com a guitarra ficou em quinto lugar no ranking dos 100 melhores guitarristas de todos os tempos da revista Rolling Stone  // Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

 

Vida e Obra de Humberto Teixeira no Cinema – O homem que engarrafava nuvens

29 quarta-feira set 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

baião, cultura, denise Dummont, Humberto Teixeira, Lírio Ferreira, Luis Gonzaga, música, Nordeste

O músico, compositor e poeta pernambucano Lirinha, vocalista da banda Cordel do Fogo Encantado, é irredutível. Ninguém tira da cabeça dele que Bob Marley só inventou o reggae depois de ter escutado um baião de Luiz Gonzaga. A teoria, maluca, diga-se de passagem, pode ser conferida no documentário, O homem que engarrafava nuvens, projeto de Lírio Ferreira (Baile perfumado) que resgata a trajetória do compositor cearense Humberto Teixeira, co-autor de várias canções com Luiz Gonzaga. Produzido pela atriz e filha do artista, Denise Dummont, o filme foi um dos destaques da programação do FicBrasília 2009. Tal tratamento não apenas dá leveza à narrativa, como permite a Ferreira explorar outros tópicos que vão além do tema abordado. De modo que, ao mesmo tempo em que legitima a importância do co-autor de grandes sucessos como Juazeiro e Asa branca à música brasileira – rastreando inclusive suas origens, no interior cearense -, contextualiza o espectador do grande fenômeno que foi o baião nos anos 1940 e 1950, e da relevância do gênero musical numa época em que o samba havia perdido seu reinado. Também tem o mérito de conseguir aproximar afetivamente Denise Dummont do universo do pai, um homem amável, catalisador de grandes amizades, mas também contraditório e intolerante, a ponto de não permitir que a filha seguisse a carreira de artista. Estende seu leque temático ao mostrar o alcance atingido pela originalidade da dupla Gonzaga e Teixeira trazendo à tona figuras como Gilberto Gil e Chico Buarque, além do cantor e compositor norte-americano David Byrne e da cantora japonesa Miho Hatori, grandes admiradores do baião. É, no mínimo, uma aula de brasilidade. (Do Correio Brasiliense, abril/2010)

Duas perguntas,

Lírio Ferreira Foi um desafio resgatar a figura de Humberto Teixeira? O filme vai atrás da sombra mesmo desse homem. É um registro importante para Denise (Dummont, produtora e filha de Humberto Teixeira) resgatar a figura do pai e é importante também cinematograficamente narrar por um outro caminho, no caminho de quem estava na sombra. Então foi um desafio e muito bacana fazer este projeto porque o Humberto Teixeira foi uma pessoa bastante atuante que, além de fazer essas 400 músicas, foi deputado federal, sempre foi defensor da Lei do Direito Autoral, que levou caravanas de música popular brasileira para o Exterior, até para o Canal de Suez., mas poucos sabem disso.

 O filme parte da figura do compositor para discutir outros temas inerentes a época? É um projeto que fala muito sobre imigração. Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga emigraram do Nordeste, depois é o baião que emigra, isso numa época pós-guerra em que os nordestinos emigraram muito atrás de novas oportunidades e foram para o São Paulo e Rio de Janeiro. Essas pessoas que estavam longe de casa queriam ouvir música de Luiz e Humberto Teixeira porque eram canções que falavam de saudade, falava da terra deles.  (Do Correio Brasiliense, abril/2010)

 

J.Borges – cordelista, xilogravurista

30 segunda-feira ago 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

cantoria, cordel, cultura, jborges, Nordeste, xilogravura

Do sítio Lost art

“JBorges é um dos mestres do cordel, um dos artistas folclóricos mais celebrados da América Latina e o xilogravurista brasileiro mais reconhecido no mundo. Começou tarde, aos vinte anos, vendendo folhetos de cordel. Antes, trabalhou na roça, foi pintor, carpinteiro, e pedreiro, mas lembra que aprendeu a ler e a escrever para conseguir ler os versos de cordel.

Publicou o seu primeiro cordel em 1964, O reconhecimento veio quando o escritor Ariano Suassuna descobriu o seu trabalho e o designou como o maior artista popular do nordeste. “Ariano disse que eu era o melhor, e o povo acreditou, e ai o serviço foi aumentando.”

Depois, foi convidado a dar aulas na Universidade do Novo México, e para expor no Texas e na Europa. Suas xilogravuras ilustram o livro “As Palavras Andantes”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, e foi o único artista latino americano a participar do calendário da Unicef. Em 1999, recebeu de Fernando Henrique Cardoso o prêmio de Honra ao Mérito Cultural do Ministério da Cultura.

Hoje, Borges já ilustrou capas de cordéis, livros, discos, e já expôs nos Estados Unidos, Venezuela, Alemanha, Suiça, México e Venezuela. Em uma turnê européia, J. Borges percorreu 20 países. Foi tema de uma reportagem no jornal The New York Times, que o apontou como um gênio da arte popular.

“Depois da materia do New York times passei a vender mais nos Estados Unidos. Antes vendia uma vez por ano, agora vendo mais de um grande pedido por ano. A divulgação ajudou muito. Essas materias de jornal ajudam bastante. Nos anos setenta e oitenta era muita gente visitando, pesquisando, nos anos noventa foi caindo, caindo, chegou quase a zero. Agora esta voltando. Não sei porque, é uma coisa meio misteriosa. O cordel chegou a beira da cova nos anos noventa. Antes eu publicava dez mil copias de cada cordel. Em 95, cheguei a fazer quinhentos exemplares, achei que ia acabar mesmo. Mas depois começou a melhorar um pouco, e agora estou tirando três ou quatro mil exemplares de cada cordel.

As enchentes no Nordeste – Lições ignoradas

28 segunda-feira jun 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

chuva, clima, enchentes, metsul, Nordeste

Não é o governo atual o culpado pela tragédia, mas àqueles que tiveram a frente do país, do Estado, do município . Onde estiveram os geográfos, engenheiros, institutos e órgãos de planejamento?

Do blog Metsul

A semana que passou foi marcada pelo desastre de proporções impressionantes na Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas, tragédia que, infelizmente, se repete. Exatamente. Não foi a primeira vez que cidades às margens dos rios Mundaú, Canhoto e Paraíba acabaram arrasadas pela força das águas. Em 14 de março de 1969, a pequena cidade alagoana de São José da Lage foi destruída por uma enchente relâmpago do rio Canhoto. O noticiário relatou à época mais de mil mortos. Foram centenas de pessoas arrastadas e afogadas.

 
 
 

Fonte: blog Metsul

 

Casas e prédios vieram abaixo, como agora se vê em várias cidades alagoanas e pernambucanas. “Onda gigante no Sertão” se disse em 1969 como agora se fala em tsunami.

Fonte: blog Metsul

A própria São José da Lage foi atingida, mesmo que em menor proporção que há 41 anos, já que muita gente, traumatizada pela catástrofe de 1969, decidiu morar longe do rio. A tragédia não foi a primeira e não será a última. Se após o episódio de 41 anos atrás tivessem sido adotadas medidas de contenção de cheias ou prevenção como retirada de moradores de áreas ribeirinhas, as conseqüências da chuva teriam sido menores, afinal inundações são recorrentes na zona com precedentes de eventos de natureza catastrófica. O desastre no Nordeste de agora (clique sobre as fotos abaixo para ampliar) é mais um no Brasil em que há a mão negligente de governantes do presente e do passado.

 
 
 

Fonte: blog Metsul

Fonte: blog Metsul

Fonte: blog Metsul

Fonte: blog MetsulFonte: blog Metsul

Silvério Pessoa e Fim de Feira cantam Cabo Tenório de Jackson do Pandeiro

15 terça-feira jun 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

cabo tenório, fim de feira, forró, Jackson do Pandeiro, música, Nordeste, silverio pessoa

Ariano e Cervantes

08 sexta-feira jan 2010

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ Deixe um comentário

Tags

Ariano Suassuna, auto da compadecida, chico, Don quixote, joao grilo, La Mancha, Nordeste

Ariano Suassuna está para a literatura brasileira e para o Brasil, como Miguel de Cervantes está para a literatura espanhola e para a Espanha. Abertamente ou não, inconscientemente ou não, ambos levantam a bandeira da defesa pela cultura popular. Cervantes usa o percurso desafiador do sonhador Don Quijote de La Mancha, Ariano serve-se da cavalgada de São José do Belmonte e das mentiras inexplicáveis de Chicó. Ambos utilizam uma arma simples e contagiante: a escrita.

Em Ariano, a gente constata a defesa de brasilidade e os gritos nordestinos em trabalhos como ‘Uma mulher vestida de Sol’ (1947), ‘Farsa da boa preguiça’ (1960), ‘Auto da Compadecida’ (1955) e ‘O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta’ (1971), para citar alguns dos bons resultados que essa sina que o Ariano persegue, produziu ao longo da sua vida.

Trovador canta o Nordeste

21 quarta-feira out 2009

Posted by zedec in O Povo Brasileiro

≈ 2 Comentários

Tags

inácio da catingueira, ivanildo vila nova, Nordeste, pajeu das flores, Rogaciano Leite, trovador


Lembro que a primeira poesia é do Rogaciano Leite, e a segunda, do Ivanildo Vila Nov…. As demais eu não sei. Se alguém souber…

Aos Críticos

Senhores críticos, basta/,
Deixai-me passar sem pejo/
Que um trovador sertanejo/
Vem seu pinho dedilhar/
Eu sou da terra onde as almas/
São todas de cantadores/
Sou do Pajeú das Flores/
Tenho razão de cantar/
Não sou um Manuel Bandeira/
Drumond, nem Jorge de Lima/
Não espereis obra prima/
Deste matuto plebeu/
Eles cantam suas praias/
Palácios de porcelana/
Eu canto a roça, a choupana/
Canto o sertão, que ele é meu.
Vocês que estão no Palácio/
Venham ouvir meu pobre pinho/
Não tem o cheiro do vinho/
Das uvas frescas do Lácio/
Mas tem a cor de Inácio/
Da serra da catingueira/
Um cantador de primeira/
Que nunca foi numa escola.
Pois meu verso é feito a foice/
Do cassaco corta a cana/
Sendo de cima pra baixo/
Tanto corta como espana/
Sendo de baixo pra cima/
Voa do cabo e se dana.
O meu verso vem da lenha/
Da lasca do marmeleiro/
Que vem do centro da mata/
Trazida pelo leenheiro/
E quando chega na praça/
É trocada por dinheiro.
O meu verso tem o cheiro/
Da carne assada na brasa/
Quando a carne é muito gorda/
Esquentando, a graxa vaza/
É a graxa apagando o fogo/
E o cheiro invadindo a casa.
Aqui é a minha oficina/
Onde conserto e remendo/
Quando o ferro é grande eu corto/
Quando é pequeno, eu emendo/
Quando falta ferro, eu compro/
Quando sobra ferro eu vendo/
Meu verso é feito a cigarra/
Num velho tronco a sonhar/
Que canta uma tarde inteira/
E só para quando estourar/
Que eu troco tudo na vida/
Pelo prazer de cantar.
Quem foi que disse/
Professor de que matéria/
Que o sertão só tem miséria/
Que só é fome e penar/
Que é a paisagem/
Da caveira duma vaca/
Enfiada numa estaca/
Fazendo a fome chorar.
Não pode nunca imaginar/
O som que brota/
Da cantiga de uma grota/
Quando chuva cai por lá/
O cheiro verde/
Da folha do marmeleiro/
E o amanhecer catingueiro/
No bico no sabiá.
Tem mulungu do vermelho/
Mas vivo e puro/
E tem o verde mais seguro/
Que tinge os pés de juá/
A barriguda mostrando/
O branco singelo/
E a força do amarelo/
Na casca do umbu-cajá.
Criou-se o estigma/
Do matuto pé de serra/
Que tudo que fala erra/
Porque não pôde estudar/
Só fala versos matutos, obsoletos/
Feitos por analfabetos/
Que mal sabem se expressar.
Falam no sul com deboche/
Que isso é cultura/
De só comer rapadura/
Como se fosse manjar/
Saibam que aqui/
tem abelha de capoeira/
E o mel da flor catingueira/
É mais doce que o mel de lá.
Temos poesia que exalta/
O que é sentimento/
E a força do pensamento/
De quem sabe improvisar/
Tem verso livre/
Tem verso parnasiano/
E mesmo longe do oceano/
Tem galope à beira-mar.
Zefa Tereza me ensinou/
Que prum caboclo/
Entrar na roda de côco/
Tem que saber rebolar/
Soltar um verso na roda/
Que se balança/
E no movimento da dança
Fazer o côco rodar.

Lamento sertanejo – Gilberto Gil

18 domingo out 2009

Posted by zedec in Música Regional

≈ Deixe um comentário

Tags

Dominguinhos, Gilberto Gil, lamento sertanejo, Nordeste, seca

← Posts mais Antigos

Mote

alceu valença Ariano Suassuna arte baião Bebida blues Bolsa Família Brasil Braulio Tavares Caetano Veloso cantoria chico Chico Buarque Chico César cinema coco cordel Cuba cultura dem dilma Djavan documentário Dominguinhos Elba Ramalho eleição eleições Eleições 2010 Euclides da Cunha filme forró fotografia futebol Geraldo Azevedo Gilberto Gil globo Jackson do Pandeiro Jazz jessier quirino Joao do Vale lampião literatura literatura de cordel livro Luis Gonzaga luiz gonzaga Lula Maciel Melo Maria Bethânia mario quintana mia couto MPB música Natal Nordeste poesia poeta política portugal preconceito psdb pt Raul Seixas regional repente seca serra sertão silverio pessoa tango Vinicíus de Morais vox populi xenofobia xote Zé da Luz

Passaram por aqui

  • 142.969 hits

Prateleira

  • Elogio ao boteco, por Leonardo Boff
  • Uma cidade dos EUA na Amazônia
  • Pessoal do Ceará
  • A Chuva Pasmada e o Mar Me Quer – Mia Couto
  • O palhaço, (Dir. Seton Melo)
  • Trivial do fim de semana… Vitrines do velho Chico
  • Democracia boa é na casa dos outros!
  • Para que serve um economista?
  • Um cafezinho…
  • Críticas revelam preconceito contra ascensão de Lula, avalia pesquisadora da USP
  • No xaxado com Lampião
  • O perfeito imbecil
  • show do Lenine em Natal…
  • Oia eu aqui de novo!
  • Chico Buarque é mais gravado que Roberto Carlos e Caetano Veloso
  • Niemeyer
  • 80 anos de João Gilberto
  • Tânia Bacelar recebe Troféu Tejucupapo – Mulher Nordeste VinteUM
  • Chico César e o forró de Plástico
  • ‘Diversidade na França é cosmética’, diz sociólogo franco-argelino
  • Prisão de Battisti era ilegal, STF deu ponto final – Dalari
  • Trivial do domingo… A cor do Som – Zanzibar
  • Trivial do fim de semana….Maria Bethania e Nana Caymmi, Sussuarana
  • Vou danado prá Catende
  • Alceu Valença defende Chico César contra o Forró, “veio”, de plástico
  • Márcio Canuto e o menino que ficou nervoso por não entender o repórter.
  • Gonzaguinha
  • Usar palavra em inglês é coisa de papagaio, diz deputado
  • Se fosse o Lula a edição da ‘veja’ seria assim:
  • O mundo fantástico de Jim Kazanjian
  • Só louco
  • Açúcar do Brasil em Portugal.
  • De Robert Johnson prá cá, 100 anos.
  • FHC e Llosa: sob fogo cruzado
  • Café…
  • Cajuína
  • Tradutor de Chuvas, por Mia Couto
  • Micróbio do Samba, por Adriana Calcanhoto
  • Adjetivar
  • Elizabeth Taylor
  • A visita de Obama
  • Orfeu Negro
  • Vou-me embora pro passado
  • É por isso que a internet ilumina o dia…
  • Que eu quero saber o seu jogo (…) Que eu quero me arder no seu fogo…
  • Dois poemas ingleses…
  • Casa de José Saramago
  • Relativizar o símbolo da Senhora Alemã, Angela Merkel
  • Como era a impressão de livros na década de 1940?
  • Marina de La Riva: fusão de Cuba e Nordeste do Brasil
  • Noel e Chico
  • Culturas…
  • Vamos dançar “Zenga Zenga” quando Kadafi cair.
  • Tania Bacelar: há uma imagem deformada do Nordeste
  • IG: Pai da estudante processada se diz envergonhado
  • O Movimento SP só Para Paulistas: querem vitimizar Nordeste
  • Conheço o meu lugar – O Melhor do Nordeste é o Nordestino!
  • Zé Ramalho, o Bob Dylan do sertão…
  • Nordeste e as eleições para presidente
  • Para o Brasil seguir mudando
  • A criançada que se alimenta de Luz no Brejo da Cruz e o Bolsa Família
  • Meu cenário – Maciel Melo e Petrúcio Amorim
  • As bonequeiras do Crato, inspiração para livro lançado pela ed. Unicamp
  • Gal Costa… musa da canção brasileira
  • Pelé,o Rei do Futebol – 70 anos
  • Bolinha de papel…
  • Chimarrão… delícia do Rio Grande, sabor Gaudério
  • Leonardo Boff e Chico Buarque – Ação Política
  • Jessier Quirino e Marilyn Monroe
  • Richard Galliano (Piazzola) Libertango
  • Paraiba Meu Amor…
  • Abel Silva
  • Como falamos a Democracia?
  • Dilma e a Fé Cristã, por FREI BETTO
  • Nossa homenagem ao sambista Ratinho
  • Trivial do domingo – Petrolina e Juazeiro, por Geraldo Azevedo e Elba
  • Poeminha do Contra…
  • Mestre Ambrósio – Coqueiros
  • Mario Vargas Llosa e a metáfora do fotógrafo cego
  • Trivial do sábado: Wilson Das Neves
  • Assessor de Marina diz que “tucano é repressão” (aos movimentos sociais)
  • Leite Derramado, por Chico Buarque
  • Mr. Wilson é o maior baterista brasileiro do século XX
  • Nonada
  • Um lugar de passagem…
  • Nobel da Paz
  • Que maravilha é o amor…
  • Estado Teocrático
  • Trivial do fim do dia… Chico Buarque com Roberta Sá, e Martin’alia
  • Nobel de Literatura
  • Cecília Meireles
  • A natureza das coisas…
  • Soy loco por ti, América
  • Um fusca
  • Nome de carro
  • Mar português, por Fernando Pessoa
  • Sebastião Salgado – A fome em preto e branco
  • Bate o Mancá – por Silvério Pessoa
  • O fim e o Princípio, filme de Eduardo Coutinho – Uma memória do Sertão
  • A Cantoria e o Blues
  • As Rosas Não Falam – Cartola
  • O Eu do Poeta
  • Casi sin querer
  • Vida e Obra de Humberto Teixeira no Cinema – O homem que engarrafava nuvens
  • Chico Buarque – O Meu Amor”
  • Paulinho da Viola: “Meu mundo é hoje”
  • Amar… por Mário Quintana
  • Trivial da semana: Geraldo Azevedo, “Dona da Minha Cabeça”
  • Mário Quintana: o tempo…
  • Mart’nalia e Djavan cantam Molambo
  • Aniversário da Revolução Farroupilha
  • Morreu Moreno, um dos últimos cangaceiros de Lampião
  • Chico César e Maria Bethania – A Força Que Nunca Seca
  • A cantoria
  • Poeta popular: João Melchíades Ferreira
  • Jackson do Pandeiro
  • Pelo Telefone – primeiro samba gravado
  • J.Borges – cordelista, xilogravurista
  • O Umbuzeiro…. Imbú
  • Trivial do fim de semana – Maciel Melo, caboclo sonhador
  • Cururu, traço das variantes da música sertaneja de raiz
  • Paisagem do interior
  • Na garupa
  • Silvério Pessoa – bate o mancá
  • “Muita gente desconhece” João do Vale
  • Kara Veia na Bodega do Zé – maior vaqueiro aboiador do país.
  • Xangai na bodega do Zé
  • Maciel Melo na missa do poeta, PE
  • Aniversário da morte de Luiz Gonzaga – entrevista com Leda Nagle
  • Se tu quiser – Santana, o cantador
  • Pesquisa do Datafolha apura dados somente de quem tem TELEFONE
  • Vox Populi – quando filtra os questionários por telefone… Serra empata com Dilma
  • Matança – XANGAI
  • (sem título)
  • Dilma abre 8 pontos na frente de Serra (41% x 33%)
  • Dilma 43 X Serra 37, Nova pesquisa Vox Populi
  • Simplesmente, lindo…. a bodega Paraopeba
  • OLINDA – capital simbólica do Brasil
  • Paulo Moura & Heraldo do Monte e Arthur Moreiral Lima…. Naquele tempo…. o sapo era cururu
  • Pinto do Monteiro
  • Morgan Freeman: Lula colocou o Brasil no Mapa Mundi
  • Trovador de São José do Egito recita versos
  • A farinha – Djavan
  • Um índio…
  • A eleição pode ser decidida já no 1º turno
  • Raul Seixas – entrevistado por Nelson Mota
  • Dilma desmascara Folha de São Paulo. Pede provas do Dossiê inventado por Jornal
  • O jornalismo POSTE da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo
  • As enchentes no Nordeste – Lições ignoradas
  • ESQUECERAM DO SERRA

Armário

  • novembro 2011 (10)
  • outubro 2011 (4)
  • junho 2011 (9)
  • maio 2011 (4)
  • abril 2011 (10)
  • março 2011 (16)
  • novembro 2010 (6)
  • outubro 2010 (42)
  • setembro 2010 (16)
  • agosto 2010 (13)
  • julho 2010 (14)
  • junho 2010 (37)
  • maio 2010 (30)
  • janeiro 2010 (17)
  • novembro 2009 (5)
  • outubro 2009 (50)
  • setembro 2009 (28)
  • agosto 2009 (38)

Principais mensagens

  • Onde anda Raimundo Sodré?
  • Trovador de São José do Egito recita versos
  • Casa de taipa
  • Quixabeira...
  • Luiz Lua Gonzaga - Rei do baião (Parte 2)
  • Mário Quintana

Categorias

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.

Cancelar
Privacidade e cookies: Esse site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte aqui: Política de cookies