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Bolsa Família, Brejo da Cruz, briza, Chico Buarque, Crak, cultura, droga, Fome, INSS, Luz Para Todos, música, Merenda, pobreza, poesia, Políticas Púlblicas, Políticas Sociais, Pronaf, samba, saude pública, Transferencia de Renda, Transporte Escolar, Vento
“A novidade lá no Brejo da Cruz é a criançada se alimentar de luz”. Esse verso é da canção “Brejo da Cruz” do velho Chico Buarque. Ele nos remete à ficção científica. Mas é possível comer luz? Olha, é possível plantas se alimentarem de luz… Nós, seres humanos, necessitamos da luz do sol para não ficarmos igual a uma vela branca, etc.
Mas, e a gente come luz? Bem, a criançada come luz quando não tem nada para engolir. Outro dia um sertanejo, numa entrevista, perguntado sobre o que comiam diante da forte seca que assolava sua região, disse: “A gente come vento”. Comer vento é sobreviver. Nessas alturas, se ele conseguir respirar, já fica alimentado. Isso lembra a famosa sextilha de Pinto do Monteiro: “Mas eu sou como lacrau / que do lixo se aproxima / e passa cinco ou seis meses / se alimentando do clima / esperando que a vítima / chegue e ponha o pé em cima!”
A boa nova é que no sertão o vento não é mais alimento para criançada. Hoje, o cenário é outro. Os programas de transferências de renda mudaram a vida dos que vivem no semi-árido. A Bolsa família, a Previdência Social, o Pronaf, o Luz Para Todos, as Cisternas, a Merenda e oTransporte Escolar trouxeram dignidade e mudaram a paisagem do sertão.
No entanto, nas grandes cidades, a criançada continua a se alimentar, mais ainda, de vento. E tanto faz, cidades pequenas como grandes. A criançada se alimenta de crak e vento. São esses novos agregados, criança e adolescentes, que passam a viver nos espaços urbanos, em ruas e vielas das cidades brasileiras, agravando assim o grave problema social. Dessa vez, não mais da fome, mas de saúde pública.