Ele teria vendido a alma para se tornar o maior. Lenda? O fato é que Robert Johnson, um século depois, é mesmo o maior
Gabriel Vituri – estadão.com.br
1938. Whisky and women, apesar de rotineiros, levaram Robert Johnson à morte em 16 de agosto daquele ano. O bluesman se apresentava ao lado dos companheiros Sonny Boy Williamson I e Honeyboy Edwards quando, atraído por olhares de uma dama, foi atrás da investida que teria lhe custado a vida. O dono do salão, inconformado com o flerte entre sua mulher e o músico, tratou logo de providenciar um litro de uísque. Parceiros tentaram dissuadi-lo de aceitar a garrafa aberta, sem sucesso. Provavelmente envenenado, ele contraiu pneumonia e morreu três dias depois em um vilarejo próximo a Greenwood, no Mississippi, na região sudeste dos Estados Unidos.
Farrell/AE – O bluesman do Mississippi viveu apenas 27 anos, o suficiente para virar uma lenda
Robert Leroy Johnson completaria 100 anos no próximo dia 8 de maio. Filho de Julia Major Dodds e Noah Johnson (amante de sua mãe e com quem ele nunca conviveu), o ícone do blues nasceu em Hazlehurst, também no Mississippi. Em 27 anos de vida, foi acusado de vender a alma ao diabo e apareceu em apenas três retratos – o último, descoberto só em 2008, hoje faz parte do acervo familiar.
Para celebrar o centenário, a Sony Music lança a coleção The Complete Original Masters – Centennial Edition, com as 29 composições do artista, um DVD e 12 discos de vinil, com réplicas dos singles lançados na época. A edição de luxo será limitada inicialmente em mil unidades e vendida somente pela internet. A caixa traz um CD duplo – o único item que poderá ser comprado separadamente – com todas as 42 gravações do compositor remasterizadas (outros lançamentos traziam apenas 41 takes, sem a versão extra de Traveling Riverside Blues). O documentário The Life And Music of Robert Johnson: Can’t You Hear the Wind Howl e dois CDs com gravações de contemporâneos a Robert, como Tommy Johnson e Furry Lewis, também fazem parte do pacote completo.
As verdadeiras joias, porém, são 12 pequenos discos de vinil. Acompanhados por um livreto com informações sobre as gravações, as réplicas trazem 24 canções (lado A e B) de Robert Johnson lançadas em 1936 e 1937. Entre as faixas dos singles estão clássicos comoI Believe I’ll Dust My Broom eTerraplane Blues. Esta última, uma metáfora sexual que compara a mulher a um automóvel sedã, foi considerada um sucesso para época, com cerca de cinco mil cópias vendidas. É claro, todo luxo tem seu preço. Prevista para ser entregue aos compradores de todo o mundo a partir do dia 26 de abril, a relíquia custará R$ 572,79, sem o frete – com todas as taxas e os impostos o valor passa dos R$ 1 mil.
Inspiração para Muddy Waters, Bob Dylan, Eric Clapton, Rolling Stones e um sem-fim de estrelas, Robert Johnson é considerado um dos grandes pais do blues e de sua evolução até a chegada do rock and roll. Autor de riffs diferentes entre si (When You Got a Good Friend, They’re Red Hot ou a clássica Sweet Home Chicago), com apenas um violão, preenchia o espaço das gravações com a marcação do baixo, solos de slide e a base da música, tudo isso misturado a uma voz compassada e profunda.
Dedicada a preservar a memória e os registros da lenda do Mississippi, a Fundação Robert Johnson – cujo presidente é Claud Johnson, o único filho do músico – promove este ano uma série de shows e outros eventos comemorativos pelos Estados Unidos. Steven Johnson, vice-presidente da fundação e neto de Robert Johnson, falou ao Estado por email. “Meu pai não conviveu com Johnson, não o deixavam. Blues era considerado coisa do diabo mesmo.”
Jessier Quirino é um poeta matuto dos bons. A poesia dele não tem um tutano grande como tinha a do poeta Zé da Luz, mas ele incorporou o que a poesia matuta anterior tinha e foi abrindo veredas, criando caminhos e personificando seu jeito de falar as coisas, e isso tudo forma um cascabulho maravilhoso.
Espia só essa preciosidade:
Deu um vento na Serra do Araripe Que entronxou uma igreja no Japão E, por falta de padre e de beato, Vei de lá com a molesta feito o cão:
Derrubou as muralhas lá da China Levantou um poeirão em Bagdá Se enfiou num esgoto no Catar Foi sair no quintal da longitude Estourou um bueiro em Roliúde Que até hoje tá dando o que falar: Foi uma moça querendo se esquivar De mostrar a caçola e os possuído: Marilyn Monroe agarrada com o vestido E o vestido danado a se enfunar.
Uma pessoa que faz poesia assim, seja ele um matuto ou um cara da cidade, arquiteto de formação, assim como Jessier Quirino, usa temas, coisas que fazem parte de sua vida, tudo com que ele tem contato e que dá um estalo lhe sugerindo uma constelação de palavras carregadas de sonoridade e de significados; isso é “meio caminho andando” para construção de um poema. Mas, venha cá! um poeta matuto pode escrever sobre Marilyn Monroe? Que eu saiba essa artista americana não pertence ao seu mundo! Ei, não carece, não!! um poeta que nem Jessier Quirino, indiferente a essas questões, fala sobre coisas que vê e os lugares onde vai, e isso é uma característica dos cordelistas e dos repentistas, para os quais tudo é possível, até o absurdo.
A poesia dele tem similitude, quero ver você ler e rapidamente não passar um “filminho” em sua cabeça transformado em paralelo abstrato, por exemplo: “mais descansado do que caranguejo almoçando” // “tranquilo que só jumento em sombra de igreja”// “devagar que só enterro de viúva rica”.
E ainda tem a similitude não-auto-explicativa. Que é isso, homem? É aquela frase que elimina o adjetivo ou advérbio inicial e recorre apenas à imagem, e aí eu faço minha própria comparação. Por exemplo: “saiu que nem uma vaca acuada de cachorro”. Eu imagino que seja a imagem de uma pessoa grandona perseguida por uma baixinha, e que sai tombando, meio cambaleando, sabendo que não pode fugir mas fugindo.
Pois bem, Jessier Quirino é o cara! Lá no final do livro tem uma seção chamada “Gaveta de Bugiganga” que tem umas definições arretadas como “Cauby Peixoto é um dos maiores Frank Sinatras do Brasil”, sugestões patriotas (“Retirar as poltronas giratórias do parlamento e trocar por tamboretes. Vá lá que o cabra não faça nada, mas ficar encostado e rodando já é demais!”) e fascinantes relatos como a “História do padre tatuado na virilha que esqueceu o celular no motel e engoliu a lente de contato misturado com um Engov”.
O Povo dos Canaviais (Bate o Mancá) é um trabalho do Silvério Pessoa, lançado em 2000. É dedicado à obra do pernambucano Jacinto Silva. No entanto, a décima faixa é do potiguar Elino Julião, Rabo de Saia. Bate o Mancá é uma lasca de Forró da moléstia. Nas próprias palavras de Jacinto (“sampleado” na abertura de Puxe o Fole Zé),
“forró é uma seqüência de ritmos nordestinos: xaxado, coco de roda, baião, o xote (…) Esses ritmos todos é que significam o forró”.
O cd vai do arrasta-pé legítimo, passando pelo coco (Casa de Aranha, Carreiro Novo, Pra Rapaziada), ao coco mais cadenciado (O Cantador, Coco na Paraíba, Gírias do Norte), até o sambinha de roda (Sabiá da Mata) e o xaxado (de Elino Julião) movido a pífanos (Rabo de Saia). O cd tá bom demais conta!!
O universo do blues e o da cantoria nordestina têm vasos comunicantes por onde deságua a poesia nos versos básicos…. Além, claro, do parentesco histórico e social. Na nossa cantoria a estrofe principal é a sextilha, e no blues tradicional, norte-americano, a estrutura é composta de doze compassos.
A nossa sextilha tem influencia Ibérica. Aliás, tudo ou quase tudo dessas bandas de cá, faz parte da cultura popular nordestina. Na verdade, a nossa sextilha é sertaneja mesma, nasceu no cariri, na caatinga, no pajeú das flores, nos leitos dos rios… Enfim, nasceu em uma região onde a presença negra é muito pouca.
Mas para não ficar nesse trololó, os vídeos abaixo mostram: Robert Johnson cantando Kind-hearted Woman; em seguida, um blues matuto cantado pelo mineiro Téo Azevedo, chamada de “Balada de Robert Johnson”. A canção é sobre a vida do cantor norte-americando, Robert Johnson, criado em um mundo que lembra o Brasil. O cantador era negro, neto de escravos, apanhador de algodão, e nunca foi à escola. E o último, uma sextilha desfiada por Ivanildo Villa Nova
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Robert Leroy Johnson (8 de Maio, 1911 – 16 de Agosto, 1938) foi um cantor, guitarristaNorte-americano de Blues. Johnson é um dos músicos mais influentes do Mississippi Delta Blues e é uma importante referência para a padronização do consagrado formato de 12 compassos para o Blues. Influenciou grandes artistas durante anos como Muddy Waters, Led Zeppelin, Bob Dylan, The Rolling Stones, Johnny Winter, Jeff Beck, e Eric Clapton, que considerava Johnson “o mais importante cantor de blues que já viveu”. Por suas inovações, músicas e habilidade com a guitarra ficou em quinto lugar no ranking dos 100 melhores guitarristas de todos os tempos da revista Rolling Stone // Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A nossa poesia popular floresceu em Provença, sul da Franca, no Século XI, através dos trovadores Regréis e Jograis. Na Espanha a poesia floresceu através dos palacianos. Foi em Homero, maior dos rapsodos, cantando as façanhas de Ulisses diante de Circe e do gigante Polifemo, que Virgílio encontrou a fonte inspiradora para a realização de sua obra monumental.
Eram os trovadores da Provença, que levaram a alegria aos senhores feudais, enclausurados nos seus castelos de guerra. Enfim, foi Dom Diniz, maior monarca da Dinastia de Borgonha, que se proclamou discípulo dos provinciais, em suas cantigas de amigo e de amor. Todavia, ninguém melhor do que o poeta Antônio Ferreira, de Portugal, falou de sua grandeza, quando disse: Regeu, edificou, lavrou, venceu, honrou as musas, poetou e leu”.
A fusão da poesia local portuguesa com a poesia dos Trovadores Jograis de Provença fez surgir novas formas poeticas de linguagem de seus famosos poetas: João Soares de Paiva, Paio Soares de Traveiros e outros. “Mas, coube ao Brasil o privilégio do aparecimento do legitimo cantador de Viola, com Gregório de Matos Guerra, que deixava a Universidade de Coimbra fazendo verso* de protesto a direção daquele estabelecimento de ensino. Nascido na Bahia, no Sec. XVII e o primeiro doutor brasileiro. Seguido pelo Padre Domingos caldas Barbosa, que, também, improvisava ao som da viola”.
A poesia, atravessando a fase colonial, veio alcancar seu apogeu na pequena Paraíba de Augusto dos Anjos e de José Américo, pois quiseram as divindades do Olimpo que, naquele torrão, bendito pelas sacrossantas musas di longinquo Parnaso, nasceram os maiores cantadores que tem notícia na história do folclore nacional.
“No Nordeste, os jesuítas catequizavam por meio da poesia por ficar mais fácil de conservar a mensagem na memória, seguindo assim o estilo da Grécia Antiga”.
Ninguém melhor do que o cantador, pode sentir a variedade de quadros de que o cotidiano nos apresenta. Traz dos sertões para as cidades o retrato da natureza, na sua expressão criadora, bem como o do rigor que castiga dentro de suas leis imutáveis.
No entender de alguns estudiosos (intelectuais) o cantador tem uma imagem completamente distorcida da sua formação verdadeira. Isto porque já foi registrada a presença de cantadores caracterizados de vaqueiros, por incumbência de pessoas que fazem folclore com pouca profundidade no assunto. Então havemos de concluir que o cantador, o legítimo repentista, e o mais feliz dos imortais, porque seu mundo não é o da maldade, não é do egoísmo, e, sim, o doce paraíso das imaginações criadoras. Citaremos a sábia e patriótica expressão de Antônio Girão Barroso, conhecido escritor cearense: “Ai do país que abandona as raízes da cultura”.
A cantoria de versos improvisados ao som da viola é uma arte que floresceu no meio rural do Nordeste, especialmente no sertão, e que só aos poucos vem conquistando público das grandes cidades. A razão principal desse fato e possivelmente, o número crescente de pessoas que se deslocam do interior para as metrópoles em busca de melhores condições de vida, e levando consigo hábitos culturais profundamente enraizados.
“No começo deste século, a figura tradicional do cantador era a do indivíduo de inteligência aguda, escassas condições financeiras, muitas vezes analfabetos ou pouco letrados, cantando de feira em feira seus versos* geniais que garantiam a própria subsistência”.
ESTILOS DE CANTORIAS
Origem de alguns gêneros e outros estilos de cantoria
A região nordestina assinalada pelo estigma da seca, marcada no quadro dantesco do sertão adusto, com suas árvores atrofiadas e nuas, é a terra onde nascido e vivido, sofrendo e cantando, os maiores valores da poesia popular, expoentes da inteligência inculta, mestres consumados nos repentes, insuperáveis nos improvisos.
Diversos são os gêneros da poesia popular do nordeste brasileiro. Além de vários gêneros poéticos adotados pelo violeiro sertanejo, cantando só, ou alinhando em dupla para o desafio.
Estas não se acorrentaram a regras imutáveis, inexpressivamente sem vibração. Ao contrário, quase todas as formas vem evoluindo, adquirindo plasticidade, tomando feição renovadora, apurando o estilo, progredindo. Essas matizes, muitas vezes revelando um colorido cintilante, ostentando o poder imaginativo, comparativamente aos arranjos musicais celebrizando compositores, atestam o processo evolutivo, reformista, na arte de cantador nordestino, no decurso do século vigente.
A cada estilo de cantoria, para tornar mais fácil ao leitor entender a sua conceituação, exemplificamos com glosas e repentes de vates nordestinos, decantados na Região Jaguaribana.
Entre as criações dos poetas clássicos, que vieram a ser usadas pelos nossos repentista, estão as modalidades a seguir especificadas:
SEXTILHAS-Talvez, por ser mais fácil, seja o gênero mais preferido pelos nossos cantadores, principalmente no início das apresentações. Seu criador foi Silvino Pirauá Lima. A sextilha é uma estrofe* com rimas deslocadas, constituída de seis linhas, seis pés ou de seis versos* de sete silabas, nomes que tem a mesma significação.
SETE LINHAS OU SETE PÉS – No inicio do século atual, o cantador alagoano Manoel Leopoldino de Mendonça Serrador fez uma adaptação a sextilha, criando o estilo de sete versos*, também chamado de sete pés, rimando os versos* pares até o quarto, como na sextilha; o quinto rima com o sexto, e o sétimo com o segundo e o quarto.
MOURÃO – Muito interessante é o Mourão, gênero que se canta em dialogo. Sua forma originaria, de seis versos*, foi substituída pela de cinco, ainda no século passado. O Mourão, na sua essência, conceitua-se como o desafio* natural. Gênero poético dos mais difíceis nunca desdenhado pelos nossos repentistas, ajusta-se-lhe melhor a denominação de trocadilho, porque, em dialogo, os articulistas se revezam nos versos* e nas estrofes*. Exemplicamos aqui, apenas uma de suas variantes, no caso, “o mourão voltado”.
DÉCIMA – embora de origem clássica, é a decima um estilo muito apreciado, desde os primórdios da poesia popular, principalmente por ser o gênero escolhido para os motes, onde os cantadores fecham cada estrofe* com os versos* da sentença dada, passando a estância a receber a denominação de glosa*.
GALOPE A BEIRA MAR – Gênero muito apreciado pelos apologistas da poesia popular, juntamente com o martelo, recebeu a denominação de décima de versos* compridos. O galope e assim chamado em virtude de ser empregado mais em temas praieiros. Foi criado pelo repentista cearense “Zé Pretinho”, natural da cidade de Morada Nova.
TOADA ALAGOANA – é um gênero pouco usado, porém muito bonito, em virtude das rimas encadeadas de forma agradável a toada.
REMO DA CANOA – Estilo originário das emboladas de côco, recentemente adaptado para as as cantorias de viola, uma inovação do poeta repentista Ivanildo Vilanova. Sua toada melodiosa é muito bonita e suave, sendo bastante apreciada pelos apologistas da poesia popular.
BRASIL CABOCLO – Considerado um dos estilos mais preferidos pelo repentista nordestino. Consiste em uma estrofe* de dez versos* de sete sílabas, semelhante ao estilo da décima, isto é, seguindo o mesmo sistema das estrofes* de dez linhas.
MARTELO AGALOPADO – O martelo atual, criação do genial violeiro paraibano Pirauá Lima, e uma estrofe* de dez versos*, em decassílabos, obedecendo a mesma ordem de rima dos versos da decima. Todavia, sua denominação não vem do fato de ser empregado como meio de os cantadores se martelarem durante suas pugnas*. Sua significação esta ligada ao nome do diplomata francês Jaime de Martelo, nascido na segunda metade do Sec. XVII, que foi professor de Literatura da Universidade de Bolonha, portanto, o criador do primeiro estilo.
O BOI DA CAJARANA – A transformação de mote em estilo da cantoria tem sido a principal criação da Literatura de Cordel Oral, nas últimas décadas do século XX.De autoria de Ivanildo Vilanova e Adauto Ferreira, originou-se do mote: “Eu quero o boi amarrado/No pé da cajarana. A consagração do estilo foi muito rápida, mesmo com a quebra da métrica no segundo verso do mote.
O QUE É QUE ME FALTA FAZER MAIS – Derivado da décima, O Que é Que Me Falta Fazer Mais, é um mote decassílabo, que transformou em gênero pela extraordinária aceitação popular. Rico em conhecimentos e doce em musicalidade, tende a permanecer por muito tempo, na primeira linha da preferência dos amantes da cantoria.
GEMEDEIRA – Pela própria denominação do gênero, vemos que serve para temas gracejantes. É a gemedeira um estilo de poesia, caracterizado pela interposição de verso* de quatro, ou, raramente duas silabas, entre a quinta e a sexta linha das sextilhas, formado pelas interjeições: ” ai e ui! ou ai! hum! Esse estilo, geralmente é cantado de forma jocosa e humorística.
QUADRÕES – ao longo do tempo, o quadrão tem sido o gênero a receber o maior numero de alterações, não só na sua forma interna, mas, também, na estrutura das estrofes*, em geral.
REBATIDO – É originário da oitava com versos* septíssilabos. Os versos* dois e quatro terminam, obrigatoriamente com “ido”, para rimar com estribilho “No oitavão rebatido”, na última linha da estância.
DEZ PÉS DE QUEIXO CAÍDO – este gênero, ainda em voga, esta incluído na décima, apresentado, no final de cada estrofe*, este estribilho: ” Nos dez de queixo caído”.
ROJÃO PERNAMBUCANO – Diz-se de uma estância de dez versos* heptassílabos nos dois últimos versos*, repetidos pelos cantadores. Esse gênero foi gravado pelos cantadores Ivanildo Vilanova e Severino Feitosa.
ROJÃO QUENTE – É mais uma das recentes criações originárias do mote, que vem, ultimamente, oferecendo novos estilos ao já expressivo acervo do repente. Coqueiro da Baia/quero ver meu bem agora/quer ir mais eu vamos/quer ir mais eu vambora. A obrigatoriedade de metrificação é apenas para a sextilha, que utiliza versos* setissílabos, com a mesma métrica e acenturação. Estilo bastante utilizado para encerrar as cantorias.
Lembro que a primeira poesia é do Rogaciano Leite, e a segunda, do Ivanildo Vila Nov…. As demais eu não sei. Se alguém souber…
Trovador Antonio Marinho, de São José do Egito (PE), recita versos sobre a força do sertanejo e as belezas do sertão em cerimônia realizada em Cabrobó (PE) por conta da visita do presidente Lula às obras de revitalização e integração do rio São Francisco
Aos Críticos
Senhores críticos, basta/, Deixai-me passar sem pejo/ Que um trovador sertanejo/ Vem seu pinho dedilhar/ Eu sou da terra onde as almas/ São todas de cantadores/ Sou do Pajeú das Flores/ Tenho razão de cantar/ Não sou um Manuel Bandeira/ Drumond, nem Jorge de Lima/ Não espereis obra prima/ Deste matuto plebeu/ Eles cantam suas praias/ Palácios de porcelana/ Eu canto a roça, a choupana/ Canto o sertão, que ele é meu. Vocês que estão no Palácio/ Venham ouvir meu pobre pinho/ Não tem o cheiro do vinho/ Das uvas frescas do Lácio/ Mas tem a cor de Inácio/ Da serra da catingueira/ Um cantador de primeira/ Que nunca foi numa escola. Pois meu verso é feito a foice/ Do cassaco corta a cana/ Sendo de cima pra baixo/ Tanto corta como espana/ Sendo de baixo pra cima/ Voa do cabo e se dana. O meu verso vem da lenha/ Da lasca do marmeleiro/ Que vem do centro da mata/ Trazida pelo leenheiro/ E quando chega na praça/ É trocada por dinheiro. O meu verso tem o cheiro/ Da carne assada na brasa/ Quando a carne é muito gorda/ Esquentando, a graxa vaza/ É a graxa apagando o fogo/ E o cheiro invadindo a casa. Aqui é a minha oficina/ Onde conserto e remendo/ Quando o ferro é grande eu corto/ Quando é pequeno, eu emendo/ Quando falta ferro, eu compro/ Quando sobra ferro eu vendo/ Meu verso é feito a cigarra/ Num velho tronco a sonhar/ Que canta uma tarde inteira/ E só para quando estourar/ Que eu troco tudo na vida/ Pelo prazer de cantar. Quem foi que disse/ Professor de que matéria/ Que o sertão só tem miséria/ Que só é fome e penar/ Que é a paisagem/ Da caveira duma vaca/ Enfiada numa estaca/ Fazendo a fome chorar. Não pode nunca imaginar/ O som que brota/ Da cantiga de uma grota/ Quando chuva cai por lá/ O cheiro verde/ Da folha do marmeleiro/ E o amanhecer catingueiro/ No bico no sabiá. Tem mulungu do vermelho/ Mas vivo e puro/ E tem o verde mais seguro/ Que tinge os pés de juá/ A barriguda mostrando/ O branco singelo/ E a força do amarelo/ Na casca do umbu-cajá. Criou-se o estigma/ Do matuto pé de serra/ Que tudo que fala erra/ Porque não pôde estudar/ Só fala versos matutos, obsoletos/ Feitos por analfabetos/ Que mal sabem se expressar. Falam no sul com deboche/ Que isso é cultura/ De só comer rapadura/ Como se fosse manjar/ Saibam que aqui/ tem abelha de capoeira/ E o mel da flor catingueira/ É mais doce que o mel de lá. Temos poesia que exalta/ O que é sentimento/ E a força do pensamento/ De quem sabe improvisar/ Tem verso livre/ Tem verso parnasiano/ E mesmo longe do oceano/ Tem galope à beira-mar. Zefa Tereza me ensinou/ Que prum caboclo/ Entrar na roda de côco/ Tem que saber rebolar/ Soltar um verso na roda/ Que se balança/ E no movimento da dança Fazer o côco rodar.
Documentário “Nordeste: Cordel, Repente e Canção. A produção é de Tânia Quaresma, datado em 1975, que mostra uma apresentação dos repentistas Caju & Castanha ainda crianças.Parte do